Joaquim Horta está a encenar a peça Memórias de uma Falsificadora, inspirada no livro de Margarida Tengarrinha. A peça começou por ser apresentada online, tendo já passado para o palco presencial, no Museu do Aljube. Margarida Tengarrinha estudou na Escola Superior de Belas Artes de Lisboa (ESBAL), tendo sido aí que conheceu aquele que seria o seu companheiro e pai dos seus filhos, o artista plástico José Dias Coelho. O homem era membro ativo do Partido Comunista Português (PCP) e também Margarida se tornou militante, no ano de 1952. No entanto, foi quatro anos antes que a estudante deu início à sua atividade política, onde coordenava a participação dos alunos da ESBAL no Movimento de Unidade Democrática (MUD) Juvenil, grupo de oposição ao Estado Novo.
Em 1955 a sua militância pelo PCP passou a ser feita na clandestinidade e Margarida começou a usar a habilidade que tinha para as artes ao serviço da falsificação de documentos para garantir o trabalho dos resistentes à ditadura de Salazar. Devido aos seus valores, a estudante acabou por ser expulsa da ESBAL, proibida de frequentar todas as faculdades do país e impedida de lecionar na Escola Preparatória Paula Vicente, onde era professora.
O marido de Margarida Tengarrinha foi assassinado a tiro pela PIDE em 19 de dezembro de 1961 e no ano seguinte, e até 1968, a artista trabalhou com Álvaro Cunhal e como redatora da Rádio Portugal Livre. Depois do 25 de abril passou a fazer parte do Comité Central do PCP e foi eleita deputada do partido pelo Algarve. Em 2016 ganhou o Prémio Maria Veleda, uma iniciativa da Direção Regional de Cultura do Algarve, com o objetivo de reconhecer personalidades da região que tenham tido impacto a nível cultural. Atualmente, Margarida é professora de História de Arte na Universidade Sénior de Portimão.
Sobre a peça
De acordo com o encenador, a vontade de adaptar o livro Memórias de uma Falsificadora – A Luta na Clandestinidade pela Liberdade em Portugal surgiu ao ler no próprio livro a frase «Quando leio relatos de vários camaradas, que já foram publicados, constato que falam de factos políticos importantes, momentos altos e heroicos da luta, mas nunca abordam estas questões do quotidiano que nós mulheres, vivemos pacientemente. Será que foi menos heroico aquele nosso dia-a-dia desgastante e obscuro?».
A peça vem no seguimento de um ciclo sobre o quotidiano, iniciado por Joaquim Horta em 2016, sentindo, após ler a frase acima mencionada, que era este o quotidiano que queria trabalhar, «como retrato do período entre 1945 a 1974».
O espetáculo, que era suposto ter sido apresentado em abril de 2020, teve um começo atribulado. Joaquim Horta confessa à LUZ. que, por momentos, achou mesmo «que o espetáculo não ia acontecer» visto que, devido à pandemia, se viram obrigados a interromper os ensaios.
No entanto, as apresentações começaram a 14 de abril, através do programa do Teatro de São Luíz – São Luíz em Casa, e na semana que vem será apresentado segunda, terça, quarta e sexta-feira no Museu do Aljube, às 19 horas.
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