O 25 de Abril, ontem comemorado, teve este ano uma polémica maior do que o costume.
Para o grande público, ficou o comunicado da DGS, a garantir haver condições sanitárias para se fazer a manifestação. Mas depois houve o alardear da IL, e de Vasco Lourenço, relacionados com a Pandemia e a distribuição dos lugares disponíveis.
Imagina-se que a IL, habituada a festejar o 25 de Abril sozinha, quis apenas criar um caso à Ventura, ser muito falada e conseguiu-o – apesar da pequenez da sua manifestação (fala-se numa centena de pessoas). Lourenço por ele, segundo disse depois, até lhe dava lugar, e a organização da Manif oficial acabou por se abrir a todos. De resto, Lourenço mostrou-se enxofrado por os restantes organizadores, quererem atirar para cima dele a responsabilidade da negativa, afiançando que os militares fizeram o 25 de Abril para todos. E só por isso, por terem transformado simples reivindicações corporativas em exigências políticas (que passavam pelos 3 velhos Ds – Democracia, Descolonização e Desenvolvimento), merecem todas as nossas homenagens, mesmo dos que se dizem contra este sistema (porque agora podem dizê-lo, e antes não).
A IL, por sua vez, ficou radiante certamente com os ecos do caso.
Claro que oiço gente de todos os lados, mesmo da esquerda, dizerem mal de Vasco Lourenço (será que só me dou com gente esquisita?), e estou convencido de que uma manifestação favorável ao 25 de Abril, com a canção do Grândola Vila Morena, poderia perfeitamente organizar-se sem ele. Como sem a IL.
E isto sou eu a pensar. Mas reconheço que temos uma Direita mais serôdia do que a estrangeira (falo sobretudo dos bons exemplos), que quis deixar as comemorações do 25 de Abril e dos cravos encarnados (com a bela excepção de quem os usou sempre, como o Gambrinus) e de certas canções que deviam ser consensuais (como a Grândola) para a esquerda. Uma Direita que nem soube aceitar um dos seus mais conhecidos Exemplares seus, como Freitas do Amaral (o tal que sempre admirou Chirac e a democracia, mesmo quando estava à frente do CDS, mas que foi depois ministro do PS (o mesmo partido com que ele e Amaro da Costa fizeram a 1ª aliança dos centristas).
De qualquer modo, temos um bom Presidente de Direita, filho de um ministro do antigo regime e de uma mulher contra esse regime, que fez um belo discurso na AR, a recordar que não há sistemas perfeitos. Haverá quem não aprecie um ou mais dos 3 Ds. Mas que interessam esses? Os democratas limitam-se a dar-lhes a liberdade de expressão própria deste sistema imperfeito (e do 1º D, a Democracia).
Sim, o presidente da AR tem razão num ponto: apesar dos cassos pontuais de corrupção (desconfia-se de um primeiro-ministro do PS anterior, e de alguns ministros de Cavaco Silva, e de outras pessoas, políticos e magistrados), ela não é extensível a todos os políticos e magistrados.
Seriam as comemorações do 25 de Abril o momento mais apropriado para falar do assunto? Não sei. Mas a Democracia permite-o.