por Isabel Babo
Reitora da Universidade Lusófona do Porto
Perante a complexidade dos problemas que assolam as sociedades contemporâneas, as respostas são necessariamente diversas, em resultado, também, do modo intrincado como as várias esferas da vida social se intersetam e repercutem umas nas outras. A começar pelas questões da saúde, sobretudo quando, há mais de um ano, se vive num estado de crise pandémica, passando às questões comunicacionais, nomeadamente às lógicas das redes sociais digitais e à propagação de fake-news, ou à crise da informação, assim como aos problemas ecológicos, sociais e económicos, as soluções a desencadear requerem conhecimento e experiência. Ou seja, os problemas têm de ser encarados e respondidos com mais ciência e tecnologia, melhor educação, formação avançada, aprendizagem ao longo da vida e melhores condições de vida.
Se há um domínio que, nos últimos tempos, emergiu na esfera pública como absolutamente necessário e de importância fulcral para reagir ao grave problema sanitário planetário, foi o da ciência, enquanto campo de práticas e conhecimentos em construção e em processo. A visibilidade do valor da ciência, nesta terceira década do século XXI marcada pela situação pandémica disruptiva, é acompanhada por uma refundação do pensamento, a partir da superação dos dualismos dicotómicos que criam dificuldades para pensar a vida, os ecossistemas, a biodiversidade, os humanos, os objetos, ou as florestas, as redes neuronais, os territórios, as redes virtuais, os dispositivos de conexão, os vírus, etc. Trata-se, em grande parte, de abandonar o ideal da filosofia clássica que isolou o indivíduo do seu meio ambiente, do mesmo modo que separou o conhecimento da ação e a teoria da prática, que interessa colocar em relação, assim como de ultrapassar a separação entre homem e natureza. Tal como importa retirar consequências das crises ambientais, sanitárias, económicas e da ‘sociedade do risco’ em que vivemos, que Ulrich Beck já havia anunciado em 1986, para redefinir a sociedade humana e o meio ambiente.
A experiência e o conhecimento são um caminho decisivo para a compreensão do real. Pensar o mundo, aliar a investigação à inovação, aplicar as respostas que a(s) ciência(s) nos oferece(m), expandir o ensino e a formação avançada ao longo da vida, a par da defesa de valores de sustentabilidade, cidadania ativa e social, justiça, inclusão e coesão da sociedade, é o desafio que devemos assumir. O que significa que não podemos deixar de pugnar pelo desenvolvimento da investigação e do ensino, pela formação interdisciplinar e transversal, bem como pela garantia de melhores condições para a realização das práticas científicas, culturais e artísticas.