As eleições regionais espanholas foram marcadas, na segunda-feira, depois da ameaça feita à ministra da Indústria, Comércio e Turismo, Reyes Maroto, que recebeu um envelope com uma faca com manchas que pareciam de sangue. Entretanto, a polícia espanhola conseguiu identificar o autor da ameaça, um homem com problemas psiquiátricos que reside na localidade de El Escorial, nos arredores de Madrid, e tinha colocado o seu verdadeiro nome e morada no envelope.
Resta, agora, identificar os restantes autores das ameaças feitas a outros três políticos espanhóis, na última quinta-feira, que receberam cartas que continham balas de uma espingarda utilizada pelo exército espanhol entre as décadas de 1960 e 1980.
Segundo a imprensa espanhola, a polícia científica está a investigar se existe uma ligação entre a ameaça a Reyes Maroto e as balas recebidas pelo candidato do Podemos à Comunidade de Madrid, Pablo Iglesias, o ministro do Interior, Fernando Grande-Marlaska, e a diretora geral da Guarda Civil, María Gámez.
Solidariedade depois de acusações As ameaças a estes políticos de esquerda estão a marcar as eleições regionais e fizeram com que os outros partidos, incluído o partido de extrema-direita, Vox, que inicialmente questionou a veracidade dos acontecimentos, condenassem as ameaças.
“Isso é real. Temos motivo para nos preocupar, eu não sou uma pessoa controversa”, disse Maroto. “Estas ameaças vão nos dar mais força para defender a democracia. O ódio e as ameaças não nos silenciarão”, acrescentou.
A carta enviada a Pablo Iglesias deixava ameaças à sua família. “Pablo Iglesias Turrión, deixaste morrer os nossos pais e avós. A tua mulher, os teus pais e tu estão sentenciados com a pena capital. O teu tempo esgota-se”, pode ler-se na carta que o político publicou no Twitter, juntamente com as quatro balas.
Dias após esta revelação, durante um debate entre Pablo Iglesias e a candidata do VOX Rocío Monasterio, na rádio espanhola Cadena SER, este abandonou o programa em direto depois de a política ter admitido que tinha dúvidas quanto à veracidade das ameaças de morte à família de Pablo Iglesias.
Divisão política Estas intimidações surgem numa altura que existe uma forte polarização política. As campanhas políticas regionais foram marcadas pela gestão da pandemia e por acusações por parte da parte da esquerda, de “branqueamento da extrema-direita”.
Segundo as sondagens mais recentes, os partidos de esquerda, o Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) de Pedro Sánchez, presidente do Governo de Espanha, o Podemos e o Mais Madri, que nasceu de uma divisão com o Podemos, desceram em popularidade, enquanto a vitória para as eleições da comunidade de Madrid deve sorrir à atual Presidente, Isabel Díaz Ayuso, do Partido Popular (PP).
Contudo, apesar das projeções indicarem uma vitória folgada para o PP, esta não deve ser suficiente para garantir uma maioria parlamentar e, segundo sugere o El País, este partido irá precisar de se juntar ao Vox para garantir a governação da capital espanhola.
A grande subida nas sondagens do PP, que conquistou mais de 50% dos votos das eleições de 2019, é também justificada pela grande queda do Ciudadanos depois de várias decisões estratégicas falhadas.
“Com três partidos na direita era muito difícil estes formarem um governo, devido ao sistema eleitoral espanhol”, explicou José Pablo Ferrandiz, investigador sénior da empresa de sondagens Metroscopia, ao Politico. “Com dois partidos [PP e Vox], será muito mais fácil”, prevê.