O mundo susteve a respiração quando Neil Armstrong pisou, pela primeira vez, a Lua a 20 de julho de 1969 e transmitiu via rádio a célebre frase: “Houston, base da tranquilidade aqui, a águia pousou”. No entanto, não somente ele ou Buzz Aldrin tiveram um papel fundamental na missão Apolo 11 – também Michael Collins contribuiu para aquele que foi “um pequeno passo para um homem, um salto gigantesco para a humanidade”.
De acordo com a família, aquele que é, muitas vezes, designado de “astronauta esquecido” (por ter ficado a orbitar a Lua aos comandos da nave-mãe enquanto os seus companheiros seguiram a bordo do módulo Eagle para pisar o solo lunar) morreu esta quarta-feira “após uma grande batalha contra o cancro”, tendo passado “os últimos dias em paz”.
Na nota publicada na conta oficial do astronauta, na rede social Twitter, os familiares acrescentaram que Collins “sempre enfrentou os desafios da vida com graça e humildade e enfrentou este, o final, da mesma forma”, escreveram. “Sabemos que o Mike se sentiu sortudo por ter vivido a vida que teve. Honraremos o seu desejo de celebrar e não de lamentar essa vida”, adiantaram.
“Por favor, juntem-se a nós para apreciar e lembrar com alegria a sua sagacidade acutilante, o seu silencioso sentido de propósito e a sua perspetiva sábia obtida tanto olhando para a Terra a partir da vantagem do espaço como contemplando as águas calmas do convés a partir do seu barco de pesca”, finalizaram.
A chegada à Lua “A coisa de que mais me lembro é a visão do planeta Terra a uma grande distância. Pequeno. Muito brilhante. Azul e branco. Brilhante. Belo. Sereno e frágil”, terá dito. Depois de ter sido considerado “o homem mais solitário do mundo”, por ter estado separado da Terra por mais de 400 mil quilómetros e sem qualquer meio de comunicação, e de não ter acompanhado a transmissão de Armstrong a pisar o solo lunar, em 2016, numa entrevista à National Public Radio, dos EUA, afirmou que “o facto de ter estado sem comunicação, em vez de ser um medo, foi uma alegria” porque lhe permitiu proceder ao controlo da missão com mais cautela.
Esta é uma palavra que, aliás, descreve bem o posicionamento do astronauta que, no dia em que a missão Apolo 11 foi lançada, partindo do Centro Espacial John F. Kennedy, na Florida, estava apreensivo e fez todas as suas tarefas com muito cuidado. “Eu estava ansioso para garantir que tudo estava correto. Porque esse seria o grande dia. Não era brincadeira”, afirmou, em entrevista ao The New York Times, em 2016.
Antes da histórica caminhada lunar dos seus companheiros, o astronauta estava mais otimista. “Pensei: Neil é um piloto muito competente e a superfície que conhecíamos apresentava alguns obstáculos, mas também tinha muitas áreas mais planas para a aterragem”, confessou, lembrando que aterraram com combustível para menos de 30 segundos de viagem.
Assim, Collins ficou muito preocupado com o retorno dos amigos, que poderiam ficar presos na superfície da Lua e teriam de ser resgatados. Se isso ocorresse, o astronauta tinha uma placa ao redor do pescoço com 18 planos de contingência, sendo que muitos não haviam sido testados.
A reação da NASA “Hoje a nação perdeu um verdadeiro pioneiro e defensor da exploração espacial, o astronauta Michael Collins. Como piloto do módulo de comando da Apolo 11 – alguns chamam-lhe “o homem mais solitário da história” – pois enquanto os seus colegas caminhavam pela Lua, pela primeira vez, ajudou nossa nação a atingir um marco decisivo”, começou por escrever Steve Jurczy, administrador da National Aeronautics and Space Administration, U.S.A. (NASA).
“Ele também se destacou no Programa Gemini e como piloto da Força Aérea. O Michael continuou a ser um promotor incansável do espaço. ‘Explorar não é uma escolha, realmente, é um imperativo’, disse ele”, lembrou o engenheiro, adiantando que Collins era “intensamente pensativo sobre a sua experiência em órbita”, tendo dito que “aquilo que valeria a pena registar é que tipo de civilização nós, os terráqueos, criamos e se nos aventuramos ou não noutras partes da galáxia”.
“Os seus escritos sobre as suas experiências e a sua liderança no National Air and Space Museum ajudaram a obter ampla exposição do trabalho de todos os homens e mulheres que ajudaram a nossa nação a alcançar a grandeza na aviação e no espaço”, redigiu o dirigente, acrescentando que “não há dúvida de que Collins inspirou uma nova geração de cientistas, engenheiros, pilotos e astronautas”.
“A NASA lamenta a perda desse piloto e astronauta talentoso, um amigo de todos que procuram expandir o potencial humano. Quer o seu trabalho tenha ocorrido nos bastidores ou à vista de todos, o seu legado sempre será o de um dos líderes que deram os primeiros passos da América no cosmos”, frisou, rematando que “o seu espírito estará connosco enquanto nos aventurarmos em horizontes mais distantes”.
É de recordar que Neil Armstrong tinha 82 anos quando morreu em 2012. Buzz Aldrin ainda está vivo e mora em Nova Jersey, tendo 91 anos.