Apesar das reações, na sua maioria negativas, contra a carta aberta escrita pelos militares, Marine Le Pen, líder do partido de extrema-direita Reagrupamento Nacional e candidata às eleições presidenciais de 2022, saiu em defesa dos seus autores.
Le Pen apelou aos generais para se juntarem a ela na «Batalha pela França», publicando também uma carta aberta na mesma revista que divulgou a missiva dos militares.
«Como cidadã e como política, subscrevo as vossas análises e partilho da vossa preocupação. Convido-vos a juntarem-se a nós para a batalha que se avizinha, certamente uma batalha política e pacífica, mas que é acima de tudo a batalha pela França», escreveu Le Pen, declarações que foram publicadas no mesmo dia em que foi reportado um ataque com facas numa esquadra em Paris, que está a ser tratado como um ataque terrorista.
O primeiro-ministro francês, Jean Castex, condenou, esta quarta-feira, os comentários da candidata da extrema-direita, afirmando que o seu apoio aos militares que alertaram para uma «guerra civil iminente» é «contrário a todos os princípios republicanos».
«Esta história seria insignificante se não tivesse sido sequestrada politicamente de uma maneira totalmente inaceitável», afirmou o primeiro-ministro. «Como podem as pessoas e, em especial, Le Pen, que aspira à Presidência, apoiar uma iniciativa que não descarta derrubar a República?», questionou Castex, acrescentando que «os leopardos não podem apagar as suas manchas».
Face a estas acusações, Le Pen procurou afastar a culpa dos militares afirmando que estes não ameaçaram levar a cabo um golpe de Estado. «Pedimos que ponham a lei em prática, é o que eles estão a dizer», tentou clarificar a deputada, que foi entrevistada esta terça-feira pela FranceInfo.
Vários autores e signatários da carta aberta têm ligações ao partido Reagrupamento Nacional liderado por Le Pen, herdeira da antiga Frente Nacional, fundado pelo pai da atual líder, Jean-Marie Le Pen. Pelo menos três dos signatários chegaram a concorrer a eleições locais pelo Reagrupamento Nacional ou fazem parte de partidos da extrema-direita, escreve o Globo, mencionando que entre assinaturas da carta aberta encontram-se defensores de teorias da conspiração racistas, como a da «grande substituição» da população branca por imigrantes.
O jornalista Hugh Schofield, correspondente da BBC em Paris, escreve que esta aproximação de Le Pen ao exército foi recebida com surpresa por parte de membros da imprensa francesa, afirmando que é uma estratégia que de algum modo ecoa as atitudes do seu pai. Este aceno ao exército acontece na véspera das eleições presidenciais, que se disputam no próximo ano, podendo servir para colher votos entre os eleitores mais à direita.
«Se, na sua opinião, a carta aberta também é apoiada por uma maioria silenciosa dos franceses, Le Pen dificilmente poderia rejeitá-la», escreveu o jornalista da BBC. Segundo o Globo, Le Pen está quase empatada com Macron nas sondagens, tendo o atual Presidente uma pequena vantagem de 53% para 47%.