A vacinação, por si só, não soa como uma coisa entusiasmante. As grandes filas de espera, os locais frios e o cenário quase fúnebre não são características que cativem cada “paciente”. Mas há já instituições a convidarem os seus visitantes a passarem por essa experiência de outra maneira. O objetivo é que as pessoas se distanciem da ansiedade trazida por momentos como este e desfrutem dos estímulos visuais presentes nos museus.
No site de um dos mais prestigiados museus de arte contemporânea da Itália, os visitantes deixaram de receber apenas o clássico convite de “Marque já a sua visita”, que é agora seguido por “Marque a sua vacinação”.
Outrora propriedade da Casa de Saboia, o Castello di Rivoli, tornou-se recentemente um dos vários museus italianos a juntar-se à campanha de vacinação do país, seguindo os passos de instituições culturais em toda a Europa.
UMA EXPERIÊNCIA MARCANTE O museu reservou as suas galerias do terceiro andar para um centro de vacinação gerido pelas autoridades de saúde locais, de forma a contribuir para a iniciativa “Art Helps”.
Durante a vacinação, os visitantes podem apreciar as pinturas nas paredes da autoria de Claudia Comte, artista suíça. Comte trabalhou com o compositor Egon Elliut para juntos conseguirem criar uma paisagem sonora que evoca “uma sensação de sonho e acalma os pacientes nos momentos de ansiedade onde muitos se movimentam de um lado para o outro antes e depois da vacinação”, disse a artista ao The New York Times.
A diretora do museu, Carolyn Christov-Bakargiev, afirmou que “a arte tem um efeito extraordinariamente importante no bem-estar e não poderia ter encomendado cenário mais perfeito do que as obras de Comte”, elogiou. A diretora revela ainda que este é um “espaço para fundir a arte de curar o corpo e a arte de curar a alma e a mente”. Na história, referiu, alguns dos primeiros museus foram antigos hospitais.
OS PRIMEIROS VACINADOS Mas não são apenas os funcionários que elogiam esta fusão: as primeiras pessoas a serem vacinadas, na passada quinta-feira, 29 de abril, também se mostraram satisfeitas.
Por enquanto, apenas pessoas que moram na área atendida pelas autoridades de saúde locais podem ser vacinadas no museu, como é o caso de Patrizia Savoia, reformada e “vizinha” do Castello. “A ansiedade de me ir vacinar desapareceu nestes belos quartos, rodeados de música. Foi muito relaxante”, contou ao jornal americano. Também Marco Bottaro, um trabalhador de escritório residente em Grugliasco, uma cidade próxima, gostou: “Foi uma experiência muito marcante”.
O DECLÍNIO DO MUSEU VERSUS A FELICIDADE EM SERVIR A COMUNIDADE A equipa do Castello está treinada para situações de maior ansiedade com as pessoas que se deslocam até ao centro. “Queremos que as pessoas sintam que estão a contribuir para uma causa maior, que é a causa coletiva e social para sair desta pandemia”, sublinhou Bakargiev. A diretora admitiu ainda que teve a ideia de usar o museu desta forma após a morte de Fiorenzo Alfieri, o presidente do museu, que faleceu de covid-19 em dezembro passado, pouco depois das portas da instituição se fecharem aquando da pandemia. Em 2020, o museu perdeu cerca de 70 por cento das visitas, que equivaleu a um milhão de euros, revelou Christov-Bakargiev. “Se o museu tem de ser fechado ao público, pelo menos que possamos servir a comunidade e resolver a pandemia”.
O centro funciona às quintas, sextas e sábados, com cerca de 100 vacinas administradas por dia. Além disso, os vacinados podem visitar o resto do museu gratuitamente.