Pandemia III – Na Educação, as vacinas à la carte

Uma Direção-Geral não é uma Tertúlia, do Marquês ou outra, que nem o poderia ser, porque ele, o Marquês de Pombal, as proibiu. Muito menos pode ser, um veículo para exprimir estados de alma; quando em causa, nas responsabilidades da Direção-Geral de Saúde, está por definição, a Saúde dos Portugueses.

por João Carlos Barreiras Duarte
Ex-administrador do British Hospital e gestor de empresas
e Carlos Novais de Araújo
Consultor indústria farmacêutica 

A trapalhada nas normas, Decisões técnicas, comunicados e conferências de imprensa da ministra da Saúde e da DGS, sobre as vacinas; é indisfarçável e contribui para o alarmismo, a insegurança e o erro. Num Governo com liderança, num Estado com valores, já estavam estas senhoras, noutra qualquer função onde não fizesse mal, mudar de opinião em espaço de horas.

Tendo presente, que estamos perante medicamentos que apenas receberam do Infarmed uma Autorização de Introdução no Mercado condicionada, os princípios da prudência e da segurança deviam nortear as decisões de todos, começando pela ministra e pela diretora-geral de Saúde.

Ora, se esse princípio da prudência foi aparentemente seguido na primeira fase da vacinação, não administrando a vacina da Astra Zeneca a maiores de 60 anos porque não existiam estudos suficientes que garantissem a segurança nessa faixa etária, como pode agora a instrução da DGS ser exatamente a contrária, ‘gastem-se’ as vacinas da AstraZeneca nos maiores de 60 anos?

Ou será que essa invocada prudência, serviu apenas para satisfazer as pressões de clientelas e votantes barulhentos, em ano de eleições; e assim justificar a administração de vacinas a ‘grupos e grupinhos’ como referiu o líder da task force, sem critérios de idade objetivos, afinal a variável mais fortemente relacionada com a morbilidade e mortalidade por covid?

O problema das decisões erráticas é que, mais dia menos dia, desencadeiam um conjunto de factos contraditórios e multiplicam os problemas em lugar de os resolver. E foi o que aconteceu nas últimas semanas. E no caso dos funcionários da educação, o feitiço vira-se contra o feiticeiro.

Utilizando essas vacinas da AstraZeneca que só podiam ser administradas a menores de 60 anos, o Governo satisfez o professor Mário Nogueira e outros grupos de votantes e vacinou mais de 200.000 professores e operacionais, muitos deles com idades inferiores a 40 anos, sem qualquer patologia critica. Ficaram todos felizes e esqueceram os computadores que ainda não chegaram, os tempos de serviço congelados, as faltas de condições, as turmas com overbooking.

Porém, como não há bem que não acabe, ainda não tinham passado os efeitos secundários, ligeiros na maioria dos casos, da primeira inoculação e logo, a realidade, essa cruel e infame meretriz que põe em causa as mistificações e a demagogia, se encarrega de criar mais um problema às doutas responsáveis do Ministério da Saúde e da DGS e já agora ao farfateiro ministro da Educação.

Afinal, professores, funcionários e outros cidadãos com menos de 60 anos, não poderão ser inoculados com a segunda dose da AstraZeneca, porque assim a EMA determinou e o Infarmed anuiu.

O que se faz às vacinas da AstraZeneca nos armazéns?

– Dão-se aos maiores de 60 anos, àqueles a quem se disse há três meses que tinham que esperar porque, pasme-se, não podiam tomar a vacina da AstraZeneca. Uma lógica avassaladora, de facto. Apareceram agora de repente estudos nos maiores de 60 anos?

Quanto aos mais de 400.000 portugueses com menos de 60 anos, que tomaram a primeira dose da AstraZeneca, qual tertúlia, diferentes responsáveis e peritos alvitraram soluções: Usa-se a vacina da Jansen que é só uma toma única para fazer a segunda inoculação. Como se esquecessem que isto será desperdiçar uma dose de tão escasso bem, uma vez que uma dose única da Jansen supostamente garante a imunização.

Outra solução, inocula-se a segunda dose com outra vacina, a da Moderna ou da Pfizer, assim não há desperdício. Esquecendo que não foram realizados estudos de segurança e eficácia ‘cruzando’ tomas de diferentes vacinas com diferentes tecnologias.

Do alto da sua infinita sabedoria, eis que a Direção-Geral de Saúde tira mais um coelho da cartola: deixa à liberdade de escolha e ao livre-arbítrio dos bem informados cidadãos em matéria tão simples, a decisão que antes proibiu, quanto à vacina a inocular na segunda dose.

Isso sim, esses cidadãos, depois de em tertúlia decidirem, têm que assinar um termo de responsabilidade, simplesmente para salvaguardar a incapacidade e a indecisão de quem nos trouxe até este beco sem saída.

Se isto não é, de facto, a ministra da Saúde e a diretora-geral da Saúde a demitirem-se das suas funções, o que é?

Vale a pena pensar nisto!!!