O ‘leão’ rugiu e voltou a ser o rei do campeonato nacional

A vitória na receção ao Boavista, em Alvalade, confirmou o que se previa há semanas: O Sporting Clube de Portugalé campeão nacional, 19 anos depois do último título.

O Sporting Clube de Portugal sagrou-se, nesta terça-feira, campeão nacional, 19 anos após a última conquista do título, assegurando o primeiro título de campeão nacional como treinador de Rúben Amorim. Maria José Valério já não celebrou o título do clube para o qual vivia, mas a sua voz, com a ‘Marcha do Sporting’, fez mais sentido do que nunca na noite de terça-feira, repetindo o feito de 28 de abril de 2002. Bastou a vitória frente ao Boavista, em Alvalade, para fazer rugir novamente o ‘leão’ de Alvalade, que se tornou assim ‘rei’ do campeonato nacional, ao oficializar o título que já se fazia sentir próximo há algumas jornadas. O emblema orientado por Rúben Amorim garantiu assim a conquista, após estar na liderança da tabela classificativa desde a sexta jornada do campeonato, e após 25 vitórias e 7 empates em 32 jornadas. Faltam, para concluir o calendário, um confronto com o SL Benfica, na Luz, e um com o Marítimo, em Alvalade, mas o título de campeão já tem o nome do Sporting CP, que acaba assim com o hiato de 19 anos, numa temporada em que, entre momentos altos e baixos, acabou por ter um ritmo mais consistente que as restantes equipas, garantindo o título de campeão nacional.

Num campeonato atípico, numa altura atípica, uma realidade fora do comum atingiu o estádio José Alvalade. Devido à proibição da entrada de adeptos no estádio, graças às restrições impostas pelo combate ao novo coronavírus, centenas de adeptos sportinguistas juntaram-se do lado exterior do reduto sportinguista, sem qualquer tipo de distanciamento social, a acompanhar o jogo e a apoiar o clube. O primeiro golo da noite, pelos pés de Paulinho, fez rebentar a festa nas imediações do edifício, com os ânimos a crescer à medida que os minutos passavam. Tanto que, ao intervalo, se registaram vários confrontos entre a polícia e alguns adeptos leoninos, que lançaram tochas contra o aparato de segurança montado nas imediações do estádio José Alvalade. A situação acalmou no intervalo, mas rapidamente voltou a escalar, registando-se novos confrontos, que resultaram em vários feridos, entre eles um repórter de imagem da TVI, que foi atingido por uma bala de borracha. Aumentou-se o número de agentes presentes na zona envolvente do estádio, mas os confrontos não acalmaram, e os ânimos mantiveram-se em alto, obrigando à assistência médica de vários adeptos. Pelo meio, O comissário Artur Serafim, da PSP, chegou a admitir o cancelamento da viagem do autocarro ‘leonino’ até ao Marquês de Pombal, onde o Sporting tinha planeado celebrar o título, devido aos desacatos vividos nas imediações do estádio. Ainda assim, o jogo prosseguiu no relvado, e o golo de Paulinho foi o suficiente para garantir a conquista do 19.º título de campeão nacional para o Sporting CP, fazendo estalar a festa verde-e-branca em Lisboa, no país, e nos diferentes cantos do mundo onde estavam presentes adeptos do clube de Alvalade.

19… ou 23? Uma polémica perdura nos recentes anos pelos corredores do Estádio José Alvalade, e a conquista do título de campeões trouxe à superfície a questão em causa. Os registos oficiais da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) contam 18 títulos de campeões nacionais na história do Sporting CP, 19 com o mais recente, mas o clube discorda, defendendo que são 22 (23 com 2020-21) os troféus nesta categoria, alegando que as quatro vitórias no Campeonato de Portugal, entre 1921 e 1938, deverão ser equiparadas a títulos de campeões nacionais. A situação levou mesmo Frederico Varandas, presidente ‘leonino’, a entregar ao presidente da FPF um parecer independente a defender esta realidade. O órgão que tutela o futebol nacional, no entanto, discorda do argumento do Sporting, alegando que o Campeonato de Portugal é equiparável à Taça de Portugal, e não ao campeonato nacional, mantendo firmes os 18 títulos oficiais do Sporting, em vez dos 22… 22 estes que, com o título conquistado frente ao Boavista na terça-feira, passaram a ser 23… ou 19? É um jogo de números, e a resposta depende de a quem se faz a pergunta, mas o autocarro panorâmico preparado para as celebrações dos ‘leões’ não parece deixar dúvidas: 23 é o número de campeonatos nacionais conquistados pelo Sporting Clube de Portugal, segundo acredita e defende o emblema de Alvalade.

De Alvalade para o Marquês Os preparativos da festa ‘leonina’ começaram a ser feitos ainda antes do início da semana, conforme vários meios de comunicação anunciaram, incluindo até a preparação do autocarro panorâmico do Sporting que levaria os jogadores do emblema verde-e-branco pela cidade, aterrando no Marquês de Pombal, que se pintou com as cores do Sporting pela primeira vez desde 2002. Aliás, horas antes do início da partida, já centenas de adeptos se tinham juntado nas imediações do Estádio José Alvalade, numa celebração em que não parecia aceitar-se a possibilidade de o Sporting deixar fugir o título, e que se manteve durante toda a duração da partida.

O que mudou desde os últimos festejos do Sporting CP? Bom, se em 2002 ainda era necessário ir aos laboratórios de fotografia revelar os rolos fotográficos para ter acesso às memórias da festa, em 2021, o mundo é muito diferente. As fotos deixaram de ser feitas por câmaras analógicas, com rolos por revelar, e passaram a ser objeto de câmaras de alta definição, incluídas em smartphones que possuem mais poder de processamento do que a maioria dos computadores pessoais tinha naquele ano. Os festejos foram transmitidos em direto nas diferentes redes sociais, outro conceito ainda pouco popular em 2002, os escudos acabaram trocados por euros, o então recém-chegado Durão Barroso acabou, poucos anos depois, por passar a pasta de primeiro-ministro a Santana Lopes – que agora é candidato, outra vez, à Figueira da Foz -, e o mundo ficou para sempre mudado com os atentados de setembro de 2001, mas há um acontecimento que se repetiu, 19 anos depois: o Sporting Clube de Portugal é campeão nacional.

No plantel, vale a pena também notar as diferenças, 19 anos depois. Rúben Amorim, o técnico responsável pelo terceiro título ‘leonino’ desde 1982, era membro das camadas jovens do Belenenses, em 2002, quando os ‘leões’ se sagraram campeões pela última vez, altura em que alguns jogadores do plantel atual, como Nuno Mendes e Tiago Tomás, não tinham ainda sequer chegado ao mundo. Afinal de contas, ambos nasceram em junho de 2002. Da equipa vencedora, aliás, só Ricardo Quaresma se mantém no ativo, tendo celebrado o título ‘leonino’ com apenas 19 anos, recém-chegado das camadas jovens do clube.

Importante será também referir que, naquele então, faltavam ainda alguns meses até à estreia de Cristiano Ronaldo no futebol nacional, com as cores do Sporting CP, que só aconteceu em setembro de 2002.