por Filipa Moreira da Cruz
A maioria da população do globo terrestre já retomou a tão ansiada ‘vida de antes’ e o mundo recuperou o que parecia estar perdido. A vacinação em massa continua e quase todos anseiam por esse momento libertador de poder respirar sem máscara. Ainda teremos que esperar algum tempo, pelo menos no país onde vivo. Entretanto, os restaurantes e os cafés reabriram. Podemos regressar ao cinema ou visitar um museu. Que maravilha!
Certos países ainda sofrem diariamente com as consequências devastadoras que a covid é capaz de provocar. Choram os mortos, contam as camas nos hospitais, mobilizam médicos, enfermeiros, auxiliares de saúde e até mesmo militares. Mas quem é que quer pensar no Brasil e na Índia numa altura destas? Os mais ricos países ocidentais certamente não! Esses nem sequer distribuem vacinas aos que mais necessitam.
A Terra gira sem a ameaça da pandemia (até quando?) e as desgraças provocadas pelos seres humanos voltam à carga ainda mais decididas a atormentar-nos. Os demónios do passado nunca nos abandonaram, estavam apenas adormecidos porque o vírus tomou conta do mundo e não havia lugar para todos. Mas o Homem é capaz do melhor e do pior e desempenha os dois com igual perseverança e afinco. Infelizmente.
Tenho três amigas que vivem em Israel com a família e relatam-me os horrores do conflito sem fim. Crianças assustadas, escolas fechadas, mísseis que se cruzam no céu. Nem Tel Aviv escapou. A cidade mais cosmopolita e internacional do país está irreconhecível. Enquanto os entendidos em Geopolítica, Política Internacional e outras politiquices tomam partido, a população é castigada todos os dias. Alguns defendem o Governo opressor de Benyamin Netanyahu, enquanto outros preferem aliar-se ao Hamas, um grupo terrorista protegido e subvencionado pelos vizinhos ‘irmãos islâmicos’. Não há inocentes porque os dois atacam sem dó nem piedade. As vítimas são sempre as mesmas: a população civil. Mas desta vez, os israelitas lutam entre si porque não rezam na mesma língua. Algo ainda mais constrangedor e inaceitável.
Outra situação que parece não ter fim voltou a repetir-se. Desta vez, não foram dezenas nem centenas, mas milhares. Num único dia, cinco mil marroquinos (seis mil de acordo com alguns órgãos de comunicação social) invadiram Ceuta e a Polícia espanhola não teve mãos a medir. Do outro lado do muro, as autoridades do reino de Mohammed VI fazem vista grossa. Que jeito lhes dá que se escapem alguns! Triste sina a destes seres humanos que, num ato de desespero, arriscam a vida. E o que faz a Europa? Como sempre, olha para o lado! Esquecendo-se que o que a separa do norte de África é muito estreito.
Vivi em duas ilhas das Canárias e recordo-me das embarcações, às vezes diárias, que chegavam à costa carregadas de homens, mulheres e até crianças.
Tenho a certeza que ninguém abandona a Pátria de ânimo leve. Os mais ricos continuam a pilhar as riquezas do continente africano, mas de maneira nenhuma querem ser responsáveis pela miséria dos que lá (sobre)vivem. Nunca poderei julgar os que se lançam ao mar porque desconheço o que significa não ter nada.
Tinha pensado em escrever um texto otimista, mas não consegui. Fica para a próxima semana.