Houve muitos projetos antes do seu para o remate do edifício. Isso foi tido em linha de conta quando formulou o seu projeto?
Já na República, em 1935, há uma primeira versão do projeto do arquiteto Raul Lino para o remate da fachada poente. Uma versão encomendada pelo Duarte Pacheco, ministro das Obras Públicas, bastante dispendiosa e que, por isso, resultou no pedido de uma segunda versão mais económica ao mesmo arquiteto, em 1944. Essa segunda versão, também não foi construída. Na verdade, todas as versões de que lhe vou falar, não foram construídas. No entanto, em 1954, há uma tentativa de construção de uma casa forte (que efetivamente foi construída), com cerca de 140 metros quadrados nessa ala poente, tendo em vista a apresentação das denominadas joias da Coroa e baixelas de aparato e que, inclusivamente, esteve aberta ao público. Em 1975 essa casa forte foi encerrada, acabando por ser demolida. Dois anos depois, surge o projeto do arquiteto João Nuno Seabra, que foi o único que teve um início de construção. Em 1978, os trabalhos começaram – essa estrutura viu-se até 2006, ano em que nós acabámos por demoli-la. Em 1984, há novamente outro projeto, do arquiteto Diogo Lino Pimentel, que faz uma nova proposta e que também acabou por não ser realizada. Em 1989, surge o projeto do arquiteto Gonçalo Byrne, encomenda direta do então IPPC, que também não foi construída. Estamos a falar de estudos prévios, estudos preliminares. Não passam disso. O único que teve execução foi o do Seabra. Em 2012, há outro projeto do Vasco Massapina, que mais uma vez não passou de um esboço, um estudo prévio.
Pode falar-nos sobre as principais linhas orientadoras da sua proposta?
Em 2006 trabalhei num projeto que ainda nada tinha a ver com este, uma intervenção mínima a que se chamou ‘higienização da fachada’. Só dez anos depois, em 2016, é que a assinatura do protocolo entre o Ministério da Cultura, a Direção Geral do Património, a Câmara de Lisboa e a Associação de Turismo de Lisboa viabilizou a construção deste meu projeto que vamos brevemente concluir com a abertura do Museu do Tesouro Real. Primeiro, obviamente, tive de perceber o que é que os meus colegas já tinham feito. Uma das questões mais frequentes é: ‘Mas porque é que não construíram a versão anterior do projeto?’. A resposta é simples. Se tivesse sido feita uma versão reduzida do projeto do Francisco Rosa, que foi encarregue da condução dos trabalhos em 1818, depois do regresso da família real do Brasil, iria ocupar a calçada da Ajuda. Isso é uma coisa que as pessoas não percebem. Teríamos de alterar significativamente o traçado da Calçada da Ajuda, com tudo o que isso significa. Na minha proposta, faço o meu limite da construção no limite da massa edificada atual. Não vou além disso. Ou seja, a minha proposta acaba por coexistir com a própria Calçada da Ajuda, que também já faz parte da história daquele local.
Mas há quem considere que o novo projeto contrasta demasiado com o edifício original…
Obviamente que não faria sentido nenhum fazermos aquilo que nós chamamos na linguagem arquitetónica de ‘falso histórico’. Se eu reproduzisse – e mal, porque estaria a reproduzir num local que não era o limite da construção –, uma linguagem semelhante à linguagem que se usava no século XIX, estaria a realizar um ‘falso histórico’. Daí que, de acordo com aquilo que são as recomendações das cartas e convenções internacionais sobre esta matéria, fiz o que achava que era exequível seguindo a mesma linguagem. Por exemplo, nós utilizámos 200 toneladas de pedra, nós fizemos imensas cornijas… Tudo o que era parte interior do pátio nós concluímos com a mesma linguagem. Agora, na fachada poente, usei uma linguagem completamente contemporânea. Esta é uma construção nova junto a um palácio antigo. A construção não toca a do palácio e houve um esforço grande para isso, por várias razões: de ordem sísmica, de ordem construtiva e até razões de ordem de segurança da própria estrutura que vamos ter lá dentro.
E como lida com as críticas que têm sido feitas?
Não me importo nada de explicar todas estas coisas. A maior parte das questões que as pessoas colocam são perfeitamente lícitas, porque as pessoas não conhecem a história do palácio, não conhecem as dificuldades de execução de um projeto desta envergadura – eu disse-lhe apenas algumas, porque o projeto tem uma complexidade tão grande que as opções vão sendo construídas mediante aquilo que achamos que nesta relação e momento é o melhor.