O julgamento de Ricardo Salgado foi novamente adiado, desta vez para dia 6 de julho. No documento de 191 páginas que a defesa do ex-banqueiro entregou ao juiz obrigando-o a adiar o julgamento de 7 para 14 de junho e agora de 14 de junho para 6 de julho, Francisco Proença de Carvalho e Adriano Squilacce alegam que “falha o pressuposto básico do crime de abuso de confiança: a realização de uma conduta do agente que consista no domínio do facto de fazer a coisa entrar no seu domínio”.
Os advogados consideraram ainda que Ricardo Salgado não foi o único a dar ordens na Espírito Santo Enterprises, – considerada o “Saco Azul” do Banco Espírito Santo (BES) – sendo que essas outras pessoas haviam também recebido dinheiro, não apenas o arguido. Entre as pessoas autorizadas a realizar movimentos estavam os nomes de Jean-Luc Schneider, José Castella, Francisco Machado da Cruz e Roland Cottier.
No documento apresentado constam também 173 documentos e os nomes de 40 pessoas que Salgado pretende que sejam ouvidas como testemunhas do julgamento que foi extraído do principal da Operação Marquês.
A defesa chegou ao tribunal já preparada para adiar o julgamento usando como argumentos o contexto pandémico e a idade avançada do arguido, tendo sido por este motivo que Salgado não compareceu mesmo depois de o tribunal decidir que teria de o fazer.
A defesa referiu ainda o facto de o ex-banqueiro ter devolvido metade do empréstimo: “A própria pronúncia reconhece que dos quatro mil euros transferidos da ES Enterprises, através da Savoices, reembolsou dois milhões de euros a 31 de outubro de 2012”.
Proença de Carvalho e Squillace recordam também os cinco milhões de euros que Ricardo Salgado injetou na ES Control “com vista a serem transferidos para a ESI Overseas”. “Isto demonstra que o arguido não se quis apropriar indevidamente do valor de quatro mil euros transferido pela Enterprises para a Savoices em outubro de 2011” – conclui a defesa.
No julgamento do ex-banqueiro está em apreciação o facto de o mesmo ter utilizado a ES Entreprises para tranferir cerca de quatro milhões de euros para a Savoice, uma empresa offshore da qual Salgado era beneficiário e que tinha conta num banco suíço.
Está em ainda em cima da mesa um segundo crime relacionado com transferências feitas pela ES Enterprises para Henrique Granadeiro, tendo depois este transferido outros quatro milhões de euros para uma conta no banco Lombard Odier aberta em nome de uma sociedade offshore chamada Begolino, que pertence a Ricardo Salgado e à sua mulher, Maria João Bastos Salgado.
No terceiro crime estão em causa mais de dois milhões e meio que tiveram origem no Banco Espírito Santo Angola (BESA), que passaram pela conta do empresário Hélder Bataglia e acabaram na Savoices.
Operação Marquês Recorde-se de que a Operação Marquês tem como principal arguido os ex-primeiro-ministro José Sócrates e que Ricardo Salgado terá sido acusado de 21 crimes, entre corrupção ativa – num dos casos por ter alegadamente corrompido Sócrates – branqueamento de capitais, falsificação de documentos e fraude discal qualificada.
No entanto, o juiz Ivo Rosa decidiu pronunciar Ricardo Salgado unicamente por três crimes de abuso de confiança num processo anexo, à parte da Operação Marquês.