Em 2016, quando fiz um pequeno estudo sobre as necessidades e desafios dos estudantes em relação à universidade, fiquei preocupado: um em cada três estudantes não se sentia seguro o suficiente para tomar uma decisão em relação ao seu futuro académico ou profissional, e dois em cada três sentiam uma enorme distância entre eles e o mercado de trabalho. Passados cinco anos, a situação não parece ter melhorado.
É extremamente improvável que não conheçamos ninguém que não esteja ou já tenha estado a passar pela frequente indecisão em relação ao futuro. E não se trata de uma decisão entre várias opções satisfatórias, mas sim da sentida pressão para tomar uma decisão, mesmo que não tenhamos informação suficiente sobre nós e sobre o mundo.
Essa força, que me parece ‘empurrar pelas costas’, vem essencialmente de terceiros. Caso o próprio leitor já tenha estado nessa situação, perceberá o que digo que, mesmo inconscientemente, o nosso círculo social, e em especial o familiar, é o principal vetor motriz.
Claro está que a responsabilidade recai sempre sobre o indivíduo, na medida em que a escolha é, à partida, sua. Contudo, sobreviver ao assalto da trincheira que é a tomada de uma boa decisão ‘às escuras’ é substancialmente mais simples quando munidos da mais importante arma: autoconhecimento. Quando sabemos quem somos, sabemos o que queremos e, melhor ainda, o que não queremos. Consequentemente, perante as opções que a vida nos apresenta, as melhores decisões tornam-se relativamente óbvias. Umas mais fáceis do que outras, mas sempre óbvias.
O segundo facto que apresentei está diretamente correlacionado com as assimetrias de informação existentes: como não é possível sabermos todas as oportunidades que as empresas disponibilizam e o que elas significam na prática (em termos de condições, ambiente real de trabalho, competências reais necessárias, entre outros), tendemos a escolher em função daquelas que conhecemos apenas. Como certamente compreenderá, nem sempre a melhor opção que conhecemos hoje é a melhor opção, no geral. Tudo depende das pessoas que conhecemos e da zona que habitamos.
Como tal, as empresas que conseguem expor-se mais nas ‘prateleiras’ da sua zona são aquelas que acabam a cativar e promover melhor as suas vagas. Como tal, agrava-se um fenómeno interessante no mercado de trabalho: os jovens procuram mais as grandes empresas e menos as PMEs, mesmo que as últimas signifiquem maior oportunidade para crescer verticalmente, um melhor salário, ambiente mais familiar e eventual maior flexibilidade (tudo aspetos valorizados).
Não quero com isto dizer que está certo ou errado procurar-se qualquer que seja a empresa e a oportunidade. Sou sim da opinião de que existe valor em investir-se na nossa experimentação, da qual resultará uma noção clara do que pretendemos para o nosso futuro.
Julgo que esteja em falta o upgrade que o mercado de trabalho e o sistema de educação precisão, para se adaptar às necessidades das novas gerações: aquelas que efetivamente vão mudar o paradigma de vez, para melhor.