por Aristóteles Drummond
A inflação bateu 8% nos últimos 12 meses. A meta era de algo entre quatro e cinco para o ano. Mas como, em economia, a teoria na prática é outra, o real continua valorizado em 10% frente ao euro e ao dólar, nos últimos três meses. No Brasil, tudo é surpreendente. Mas tem uma explicação.
O superávit na balança comercial deve fechar o ano com cerca de 70 bilhões de dólares, um recorde, o que favorece as reservas cambiais. E o crescimento em relação ao ano passado prossegue, embora ainda não no nível pré-pandemia. A capacidade ociosa da indústria vem do governo Dilma; logo, ainda tem espaço para ser ocupado. Os sucessivos apoios em dinheiro a 40 milhões de brasileiros, agora renovados até agosto ou setembro, conforme anunciamos aqui, aumenta o gasto perigosamente. E não abre espaço para o investimento público.
Crescer de verdade, recuperar o emprego, vai depender das reformas, que encontram resistências no Congresso, não apenas das esquerdas, mas também na eliminação de benefícios fiscais que abundam no sistema tributário nacional. Além de certo desinteresse do governo, que está mais preocupado com as eleições do que com as futuras gerações.
E tudo fica mais incerto com o Presidente Bolsonaro cada vez mais implicado na negligência no combate à pandemia, não usando máscaras, colocando em dúvida a segurança das vacinas como imunizante e, agora, achando que existe uma super notificação de mortes pela covid. E, claro, sem abandonar a defesa da cloroquina, que o seu próprio ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, declarou não ter base na ciência e criticar medidas de isolamento. A última é liberar o uso das máscaras para os vacinados ou recuperados, como se isso fosse possível de controlar. E vacinados com as duas doses são apenas 12% dos brasileiros. Desta ultima parece que está desistindo.
O surpreendente comportamento do presidente – abandonando, inclusive, seu projeto liberal para a economia e de apoio às operações de combate à corrupção – tem levado a fazer circular uma das frases de Roberto Campos (1917-2001): «O Brasil não perde a oportunidade de perder oportunidades».
Mas, como dizem que Deus é brasileiro, reina certa paz no país.
VARIEDADES
• Uma empresa sueca-israelense dá início a um projeto de construir em Fortaleza, no Porto do Pecém, a primeira usina de maremotriz do Brasil, que poderá ser a segunda maior do mundo.
• O desafio agora é aumentar o aproveitamento do gás dos campos de petróleo, que apenas tem a metade aproveitada; o restante é reinjetado nos poços marítimos. É que a importação de gás eleva o custo das térmicas a gás, ligadas em função da grave crise hídrica, com os reservatórios com níveis perigosamente baixos. A energia elétrica mais cara.
• Falta de chips paralisa indústria eletrónica e a automobilística – dez montadoras estão paradas. Produtos para a construção civil em falta ou em alta de preços. Além de muitos lançamentos imobiliários e de uma febre de reformas em habitações que varre todo o país.
• Copa América sem problemas. O simples fato de ser no Brasil alegra o povo. E tudo sob controle, como nos demais jogos. A delegação da Venezuela é que chegou com 13 infetados pela covid, imediatamente isolados.
• A classe politica, a media, em raro momento de união no pesar pela morte do politico Marco Maciel, que foi deputado, senador, governador de Pernambuco e oito anos vice-presidente da República. Homem do centro democrático foi uma influência muito positiva no período militar.
• Os voos da TAP saindo dos aeroportos brasileiros lotados.
• No pós-pandemia a aviação comercial vai focar ligações com as cidades médias. No Rio Grande do Sul o deputado Pedro Westphalen garantiu mais de dez cidades que passam a ter voos para Porto Alegre.