As notícias sobre bullying são desconcertantes. Perturbadoras. E o incitamento e aprovação dos colegas, acentuado pelo uso dos telemóveis e redes sociais para difundirem o acontecimento, é vergonhoso.
Este é um assunto particularmente revoltante, até porque geralmente dá-se de uma forma cobarde, de uma maioria sobre uma minoria, do maior sobre o mais pequeno, do mais forte sobre o mais fraco, do mais popular sobre o menos popular… Porque fragiliza ainda mais quem já está fragilizado.
Há algo de muito errado quando alguém tem prazer em humilhar e magoar alguém e é importante perceber o quê. Devemos estar atentos e cuidar não só da vítima, mas também do agressor. Este, muitas vezes, é também a vítima num outro papel, numa outra relação em que está em desvantagem, como em casa, por exemplo, ou num outro grupo de pares. Também é um jovem ou uma criança que inspira atenção e cuidados. Que provavelmente também está em sofrimento e encontra ali uma forma de se sentir em vantagem. É importante olhar também para quem fica a ver, para quem incita, filma e partilha. E para todos os que passam e não fazem nada. Sabemos como é difícil sair do rebanho, sobretudo quando estamos a falar de grupos de pares em idades para quem os amigos são quase tudo. Não apoiar comportamentos com os quais não se concorda pode ser o suficiente para ser excluído do próprio grupo, ou até a próxima vítima de humilhação. Por outro lado, quem passa e vê pode também ter medo de denunciar.
Todo este enredo é mais complexo do que o grupo dos bons e dos maus, ou do menino mau e das vítimas, que tendemos a ver de fora, e tem de ser olhado e prevenido em todas as frentes.
Tudo começa em casa. É daí que tem de vir o exemplo. O que nem sempre acontece. Não falando sequer das famílias mais disfuncionais, pergunto-me que valores transmitem aos seus filhos os pais e adultos que comentam agressiva e ofensivamente notícias e artigos de opinião na internet. Ou aqueles que resolvem os problemas dos filhos ameaçando ou passando a vias de facto com os professores, pais ou mesmo colegas dos filhos, ou que arranjam conflitos por onde passam quando as coisas não estão do seu agrado.
Os pais são o primeiro e maior exemplo. Têm de ensinar os filhos a não se deixarem atacar ou humilhar, mas também a terem respeito pelos outros, a serem amigos, solidários. Nem sempre é fácil, mas os pais têm de estar atentos, têm de ouvir os filhos e acompanhá-los.
Nas escolas tem de haver um maior trabalho das emoções e das relações. Tem de se passar a mensagem de que os maus não são só quem bate: todos em alguma altura podem fazer coisas que magoam os outros em maior ou menor grau. Tem de se estar atento não só às vítimas, mas aos possíveis agressores, tem de se fazer um trabalho com eles para se perceber por que lhes dá prazer magoar alguém. Igualmente importante, tem de haver mais auxiliares, mais adultos atentos ao que se passa nos recreios. E, já agora, menos telemóveis, que não fazem lá falta nenhuma.