“A retirada das medidas de apoio, numa situação de endividamento elevado e de atividade ainda deprimida em alguns setores, potencia a materialização do risco de crédito”. Este é um dos alertas do Banco de Portugal que constam do 'Relatório de Estabilidade Financeira' divulgado pelo banco central.
O Banco de Portugal lembra que “a pandemia de covid-19 causou uma crise económica com implicações para a situação financeira” e que “as medidas de apoio, adotadas rápida e coordenadamente, evitaram a transmissão da crise ao setor financeiro”.
No entanto, o banco liderado por Mário Centeno diz que “a crise interrompeu o processo de ajustamento da economia portuguesa. A magnitude e a persistência da crise, juntamente com a diluição no tempo e a redistribuição dos custos da pandemia entre os setores privado e público, levaram a um aumento da dívida, em particular nas administrações públicas e nos setores de atividade mais afetados pela crise”.
No caso do setor bancário, “o reconhecimento atempado do risco de crédito reduziu a rendibilidade do setor”, diz o BdP, acrescentando que “os bancos, beneficiando igualmente de medidas adotadas, mantêm indicadores de liquidez e de solvabilidade resilientes, ao mesmo tempo que satisfazem as necessidades de financiamento da economia”.
No entanto, há vulnerabilidades e riscos para a estabilidade financeira. Além da referida anteriormente no que diz respeito à retirada das medidas, o BdP alerta ainda para o risco de uma correção nos mercados financeiros internacionais, “que poderá ser amplificado pela elevada alavancagem, pela exposição a ativos de menor qualidade creditícia e pela baixa liquidez na carteira do setor financeiro não bancário na área do euro”.
Mas há mais: “O elevado endividamento das administrações públicas e o aumento das responsabilidades contingentes constituem uma vulnerabilidade da economia portuguesa”, alerta ainda o BdP.
E os riscos continuam: uma “correção dos preços no mercado imobiliário residencial em Portugal, que pode decorrer, inter alia, da potencial retração da procura de imóveis por não residentes, que surja associada a uma deterioração das condições de financiamento internacionais”.
Já no mercado imobiliário comercial, o BdP diz que “pode ocorrer uma queda adicional dos preços na sequência da ocorrido em 2020 para alguns segmentos (retalho e hotéis)”.
Existem ainda “perspetivas de rendibilidade baixa no setor bancário e reforço da ligação ao setor público, através do reforço da exposição a divida pública e da concessão de crédito com garantia pública”.
Por tudo isto, o banco central defende que estas vulnerabilidades e riscos “devem ser tidas em consideração na formulação de políticas promotoras da estabilidade financeira”.