Os franceses, ou pelo menos alguns deles, dirigiram-se às urnas, este domingo, para votar nas eleições regionais, para eleger representantes para 13 regiões e cinco territórios ultramarinos, e o grande vencedor foi… a abstenção, com um recorde histórico de quase 70%.
Entre a população de 48 milhões de habitantes, cerca de um terço dos franceses não votou, o que poderá revelar um desagrado por parte da população pela forma como o seu país está a ser liderado e também uma falha de comunicação entre o Governo e o povo.
Segundo o porta-voz do executivo, Gabriel Attal, este nível de abstenção sem precedentes pode ser justificado pela atual crise sanitária ligada à pandemia, no entanto, alertou que esta situação pode ser um reflexo e um aviso para aquilo que poderá acontecer daqui a menos de um ano, nas eleições presidenciais francesas.
No geral, poucos foram os que ficaram satisfeitos com os resultados destas eleições, tanto pelo nível de abstenção, como pelos resultados amealhados pelos partidos.
O partido do Presidente Emmanuel Macron, Em Marcha! (LREM), obteve resultados desapontantes em praticamente todo o território francês, conseguindo apenas 10,9% dos votos, foi apenas o quinto partido mais votado, um resultado que foi descrito pela deputada do partido, Aurore Bergé, como uma “chapada democrática na cara”.
Quem também ficou dececionado com os resultados foram os membros do partido de extrema-direita, União Nacional, liderado por Marine Le Pen, que alcançou cerca de 19% dos votos, segundo partido mais votado.
Apesar de Le Pen não ter participado diretamente como candidata existiu uma forte aposta nestas eleições, depois de ter feito uma forte campanha para apoiar os seus candidatos, nomeadamente nas zonas rurais que têm dado um forte apoio à extrema-direita. No entanto, esta aposta saiu furada, os resultados apontaram para uma queda de apoiantes, em comparação com dezembro de 2015, quando o partido conseguiu 27,7% dos votos na primeira volta.
A líder do partido justificou este resultado com a abstenção dos apoiantes da União Nacional, apontando para “um desastre cívico que deforma a realidade eleitoral do país e que produz uma visão enganadora da atuais forças políticas”. Em média sete em cada 10 eleitores do partido da União Nacional não votaram nestas eleições.
Mas nem tudo está perdido para Le Pen, ainda é possível que o seu partido consiga o controlo na Provença-Alpes-Costa Azul, onde o candidato Thierry Mariani ganhou, caso obtenha a vitória na segunda volta das eleições, que irá decorrer a 27 de junho.
Entre as amargas derrotas de Macron e Le Pen, ainda era possível observar pessoas a sorrir, nomeadamente dentro do partido de centro-direita, os Republicanos, que conseguiram o maior número de votos em França, com 28%.
O partido conquistou uma importante vitória na região Hauts de Seine, com o potencial candidato às presidenciais, Xavier Bertrand, a derrotar com os adversários com mais de 40% dos votos, apesar do investimento de Macron nesta região, onde colocou como candidato Laurent Pietraszewski, secretário de Estado das Reformas, ajudado por Éric Dupond-Moretti, ministro da Justiça, candidato em Pas de Calais.
Apesar das projeções das presidenciais mostrarem que a corrida vai ser composta por Macron e Le Pen, agora, com estes novos resultados, Bertrand mostra que pode ser um inesperado rival à liderança do país.