por Filipe Anacoreta Correia
1. Como era esperado o Campeonato Euro-2020 ajudou a gestão do calendário político. O Governo tinha escolhido o timing das nomeações polémicas com essa noção: depois de Ronaldo bater todos os recordes, que interessa se a mulher do Ministro Cabrita, ela própria ex-ministra do Governo que a indica, é agora posta a presidente de uma entidade reguladora? E o mesmo se diga das colocações da ministra da Justiça: depois de estarmos nos oitavos de final, que importa se quem vai investigar a corrupção do Governo vier do interior do Governo? Quem se preocupa mesmo com corrupção, quando ainda temos 3 jogos pela frente até à final? E depois daquelas defesas do Patrício, quem ainda se lembra do mega gabinete de Pedro Adão e Silva para incensar o regime socialista? Quem se prende em patacos quando podemos ganhar mais um jogo?
2. De política apenas umas brechas para comentar as afirmações de Ferro Rodrigues: devemos ou não devemos acorrer a Sevilha? Marcelo acha que sim. O Governo não comenta.
3. Entretanto, Lisboa continua a agravar a situação pandémica nacional. Desde os festejos do Sporting – festejos que o presidente da Câmara Fernando Medina não soube organizar e que o Ministro Cabrita também não quis perturbar –, que a evolução do surto não parou: os aumentos de infetados alastram em linha com as previsões dos especialistas logo na sequência da festa do campeão e colocam-nos em contraciclo com o resto da Europa. Entretanto, a economia fecha e a ameaça de novo confinamento paira no ar. O ano de turismo fica de novo comprometido. Nada que não se aguente, enquanto esperamos pelo embate com a Bélgica.
4. A semana do futebol ganhou as cores do arco-íris e abriu uma exceção para abraçar a política global. De mãos dadas com Instituições financeiras, o futebol e a política todos unidos em torno de uma causa (contra Orban marchar), que parece no mínimo ridículo e desproporcional. Entretanto, em Hong-Kong fechou mais um jornal pró-democracia. No Mar Negro, Putin faz disparos de aviso contra armada britânica. Vai ficar tudo bem.
5. Pelo caminho, a Rússia já perdeu e não segue para os oitavos de final. O que dá a Medina novo pretexto para ir ao banco descansar. Depois de encomendar uma auditoria que diz o que quer e omite o que não quer, concluiu-se como tinha de ser: a culpa era de alguém mas não do Presidente. Só em Portugal é que um erro é menos grave se for praticado mais de 50 vezes. E só em Lisboa é que o Presidente confina a sua responsabilidade política ao gabinete das suas nomeações. Ficamos todos a saber que aquilo que funciona mal na Câmara há anos é matéria burocrática, mesmo quando estão em causa direitos fundamentais. Medina revela não ter estatura, nem grandeza, nem nada que se pareça com um presidente da maior Câmara do país. Quem repetidamente se orgulha de não jogar, tem de deixar o banco. Medina devia ficar na fase de grupos com a Rússia.
6. Por falar em ir ao Banco, António Costa promove em Bruxelas uma nova versão da imagem do Zé Povinho, agora de mão estendida. O PRR, nas mãos do PS, é uma caridadezinha, um guito que os senhores da Europa lhe dão para ele ir ao Banco e continuar a manter a família socialista nas instituições que o suportam. Uma vergonha sem pingo de dignidade nacional que nos coloca a todos como a cauda ou o rabo do continente.
7. Mas não falemos de coisas sérias. A seguir a Sevilha, será Londres e temos de sonhar com a Itália. Se aos 10 minutos tivermos a ganhar seremos os melhores do mundo. Se aos 20 estivermos a perder, seremos os piores. Entretanto sofremos, sofremos, sofremos, porque essa, sim, é a nossa sina.
8. Não é de agora. Já o regime de Salazar era caricaturado com os 3Fs do Futebol, do Fado e de Fátima, a trilogia que, conforme se dizia, pacificava e alienava o país para não pensar em política. Dos 3, teremos passado a um? Em qualquer caso, não andaremos muito longe. Para Rafael Bordalo Pinheiro, « Zé Povinho olha para um lado e para o outro e… fica como sempre… na mesma». No final do dia, estamos pois muito f.