Os casos aumentam e nós vemo-nos a caminhar para um novo confinamento. Mesmo que parcial, começamos já antever o limite da nossa liberdade: cafés e restaurantes fechados a partir de determinada hora; não circulação entre concelhos; supermercados fechados mais cedo aos fins de semana.
Isto pode parecer estranho para nós, mas na realidade há muito que se faz noutros países. A determinada altura, já nós estávamos livres e felizes da vida, como se não existisse vírus, em Itália as pessoas tinham de, ao sair de casa, levar consigo um papel para atestar para onde iam. O mesmo aconteceu com França.
Também em Itália, há muito que funcionam por confinamentos parciais, isto é, assim que o número de casos subia numa cidade ou numa determinada região, entravam em zona vermelha e, por isso, inicia-se novo confinamento quase total.
Portanto, o que nos possa parecer estranho fazer em Portugal, esta a ser usado há muitos meses já noutros países que prezam muito a liberdade, como é o caso da França, mas que não hesitaram em avançar para os confinamentos parciais e o controlo total da população.
Não há dúvida de que haverá muita dor misturada nestes tempos. Os confinamentos têm trazido muitos problemas pessoais e muitos problemas familiares. Há muitos desequilíbrios e descompensações psíquicas que afetam as crianças e os adultos, que têm conduzido muitos ao desespero. Consigo imaginar um pouco o sofrimento porque muitas famílias estão a passar neste momento e como estas limitações irão complicar ainda mais.
Há algumas perguntas que podemos e devemos colocar: como posso eu lidar com novas limitações da liberdade exterior? Como posso expandir-me para fora de mim sem sair da minha casa? Há forma de lidar com a solidão e com a angústia?
Sim! Há formas de lidarmos com estes confinamentos sucessivos e não precisamos de fazer muitas coisas. No fundo, todos tempos a possibilidade de furar o confinamento, entrando dentro de nós, saindo para onde nos leva o coração.
É importante que nos lembremos que um dia já fomos cristãos ou já tivemos em alguma altura da nossa vida aulas de catequese. Ali ter-nos-ão ensinado a rezar, isto é, a dialogar com Deus! A oração, diria Santa Teresa de Ávila, é um tratar de amizade com aquele que sabemos que nos ama. São Bento refira-se à oração com um entrar entro de si.
O que nos falta, mesmo, é uma fé adulta, que nos dê capacidade de irmos ao encontro de um Deus que se chama Emanuel – Deus connosco. O que nos falta é exercitarmos os músculos interiores da nossa vida interior.
Ao longo das últimas décadas demos tanta importância à vida física, à saúde, ao bem-estar social, ao desporto, à estética corporal que já nem sabemos que existe uma vida para além da física, existem realidades metafísicas que nos podem suportar da nossa vida física.
Multiplicaram-se os ginásios, as clínicas de estética, os clubes de desporto, os barbeiros especializados, mas esvaziaram-se as Igrejas. E agora? De que nos vale os corpinhos lindinhos que temos? De que nos vale a estética toda que desenvolvemos se nos olhamos ao espelho e nos sentimos presos dentro de nós.
O mais grave não está no facto de termos perdido a nossa liberdade exterior, mas de estarmos incapacitados de readquirir a nossa liberdade interior.
Consumimos, comemos e compramos! Andamos de um lado para o outro… mas não temos capacidade de entrar dentro de nós. A mim tem-me consolado muito as palavras de Santa Teresa de Ávila: não te perturbes, nada te espante. Deus não se muda. A paciência tudo alcança. Quem a Deus tem nada lhe falta. Só Deus basta!