O Dia Internacional do Orgulho Gay celebra-se no próximo dia 28 de junho, mas acontece todos os dias. Custa-me que ainda se celebre, que faça sentido, uma (forma de) luta pelo fim da discriminação com base em critérios de orientação sexual. Ou quaisquer outros.
Claro que há discriminação e que a orientação sexual ainda é um fator relevante em contextos onde não devia ser, nomeadamente nas relações laborais. Discutir igualdade de direitos devia ser um absurdo, infelizmente não é. Começando logo por partir de uma premissa de maior capacidade, apetência, de um determinado género ou orientação sexual para certas profissões.
Salvo raríssimas exceções, a orientação sexual não é um fator com impacto no desempenho de uma profissão. Convém lembrar que características como altura pode ser um fator muito mais limitativo, tal como peso, a idade ou a boa aparência física. Talvez não seja justo, mas há situações em que não há opção, o tipo muito alto não pode ser piloto da força aérea porque não cabe no avião.
É discriminação? É, mas faz parte de um critério de seleção. Orientação sexual ou cor de pele são características que não causam impedimentos. Sempre que há discriminação, ou diferenciação com base em características como a orientação sexual, é muito mais provável que seja um tema de preconceito do que de competência para a função. É muito diferente de procurar determinadas características, nomeadamente físicas, num contexto de seleção.
Com mais dificuldade, entendo a posição de algumas empresas, que passam anos a construir a reputação e património das suas marcas e querem fazer chegar às pessoas a mesma experiência em qualquer contexto de interação.
Simplificando, uma marca que há vinte anos investe para criar uma perceção de especialista em beleza, que se promove nos red carpets vestindo luxuosamente top models e atrizes, pode ter uma pessoa feia – porque as há,
independentemente de serem cuidadosos com o aspeto e bons profissionais – a atender os seus clientes? Deve mas não pode arriscar um negócio por uma questão de princípio. Pode mas não deve porque se arrisca a comprometer o negócio por uma questão de princípios. Uma encruzilhada: ter princípios éticos e morais (elevados) é mau para o negócio. Mas o que as pessoas mais valorizam nas marcas são o seu propósito e os valores que representam. E as marcas mais relevantes têm, regra geral, melhor performance de negócio do que as outras. Em que ficamos?
Está demonstrado que a diversidade é um fator de competitividade das empresas, assim saibam aproveitar o melhor, que por vezes significa diferente, que as pessoas têm para dar. Há até um grande consenso em torno da matéria. Cada vez mais empresas implementam políticas contra a discriminação e promovem ambientes onde diferentes etnias, orientações sexuais, visões religiosas, convivem e em conjunto constroem contextos mais ricos, fruto da diversidade.
Comecei por dizer que me custa assistir à necessidade de falar deste tema, de ainda ser preciso lutar com intensidade contra a discriminação. O que se passou em Munique foi um exemplo do que ainda acontece em tantos outros lugares. Num mundo ideal aquela luz não estaria acesa, não faria qualquer sentido. No mundo real, não foi possível acender aquela luz. As marcas que patrocinam o evento pouco ou nada fizeram, era preciso muito mais do que posts e comunicados de imprensa.
Nos próximos dias, é natural que apareçam mais bandeiras à janela e que o tema da discriminação seja debatido, entre a transmissão de um jogo e a análise do mesmo por um conjunto de especialistas. E, claro, já há muitas marcas com o seu símbolo decorado com as cores do arco-íris, um gesto que pode não ter grandes efeitos práticos, mas que marca uma posição.
Podemos contar com as marcas para estarem na linha da frente do combate à discriminação. Todas partilham este princípio. Mas falta ação. Hoje as marcas pagam para estarem associadas a eventos e instituições que defendem o contrário do que ditam os seus princípios. Que significado é que isto tem?
Compete à sociedade, sobretudo aos consumidores, exigirem mais mudanças e mais rápidas, recompensando as marcas que o fazem e penalizando as que não se importam com o tema. O retorno é incomparavelmente superior à descida das ações causada pela água do Ronaldo.
P.S. – A propósito da participação de Portugal no Euro e das múltiplas manifestações de apoio, convém ter presentes alguns limites. Apoiar a Seleção, cantando o hino ou agitando uma bandeira é legítimo e desejável. Conspurcar qualquer um destes elementos é inaceitável. Mantenhamos as bandeiras, os cachecóis e a cantoria desafinada a plenos pulmões no início de cada jogo. Oxalá façamos muitas festas com as vitórias da seleção! Mas respeitemos os símbolos que nos identificam