Enquanto o presidente da China, Xi Jinping, conversava por videoconferência com o seu homólogo francês, Emmanuel Macron, e com a chanceler alemã, Angela Merkel, esta segunda-feira, eram as ambições geopolíticas do Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, que estavam em risco. Biden pode não mostrar a agressividade do seu antecessor, Donald Trump, que se envolveu em sucessivas disputas comerciais com a China, abalando a economia mundial. Mas ninguém tem dúvidas que uma das suas grandes prioridades é isolar Pequim, apoiando-se naquilo a que chamou de “aliança de democracias”, numa espécie de nova guerra fria contra a China e os seus aliados, como a Rússia ou o Irão.
Ver a França e a Alemanha discutir com a China temas como o comércio internacional, bem como o combate à covid-19, o desafio das alterações climáticas ou a defesa da biodiversidade, segundo a Reuters, certamente terá deixado Washington preocupado. Afinal, ainda há umas semanas Biden foi à Cornualha, no Reino Unido, para a cimeira dos G7 – que junta as democracias mais ricas e industrializadas do planeta – e passou o tempo a tentar criar uma frente unida contra a China.
No entanto, o eixo franco-alemão apesar da histórica proximidade aos Estados Unidos, parece decidido a tentar fazer de ponte entre as duas grandes potências mundiais. É a terceira cimeira por videoconferência entre Paris e Berlim, de um lado, e Pequim, do outro, em menos de seis meses.
Até foi abordado um dos assuntos mais espinhosos, os abusos da China contra uigures – uma minoria muçulmana chinesa, alvo de mais de um milhão de prisões, bem como esterilizações forçadas e tortura, segundo grupos de defesa dos direitos humanos. Aliás Merkel e Macron terão “partilhado as suas graves preocupações a respeito da situação de direitos humanos na China, e recordado as suas exigências quanto a luta contra o trabalho forçado”, garantiu o Eliseu, em comunicado.
Interesses comuns Com a sua conversa com Merkel e Macron, Xi mostrou que os discursos belicosos da última semana, no 100.º aniversário do Partido Comunista da China, de que o partido nunca mais voltaria a ser oprimido e intimidado, não significa necessariamente o isolamento dos países ocidentais.
A verdade é que a China dificilmente poderia ser ignorada pela Europa, por mais que os Estados Unidos assim o desejem. Por mais que Washington tente mobilizar uma frente unida contra Pequim, é difícil imaginar como é que a Berlim e Paris, se levarem a sério o combate internacional às alterações climáticas, podem não negociar com o maior emissor de gases como efeito de estufa, por exemplo – aliás, uma das prioridades de Merkel e Macron na conversa com Xi foi justamente o fim do apoio chinês a centrais elétricas a carvão, notou a DW.
Além disso, Paris, Berlim e Pequim são todos signatários do acordo nuclear entre os Estados Unidos e o Irão, tendo discutido como recuperá-lo após ser rasgado por Trump, não tendo o seu sucessor – que era vice-presidente de Barack Obama quando o acordo foi assinado, em 2015 – conseguido voltar atrás. O facto de Biden, nas últimas semanas ter bombardeado instalações de milícias xiitas iraquianas aliadas do Irão provavelmente não ajudou às negociações.