Com 72 anos cumpridos há menos de um mês, Luís Filipe Vieira é uma das figuras mais mediáticas do país, marcando presença assídua nos jornais, telejornais, rádios e websites de informação. Pai de dois filhos e avô de cinco netos, tenta manter um perfil discreto, demarcando bem a vida pública da vida privada.
Apesar de todos o associarem ao mundo do desporto, Vieira começou a sua carreira empresarial longe do futebol, e mais perto dos automóveis, da construção civil e do imobiliário.
Nascido e criado no bairro das Furnas, na zona de Benfica, em Lisboa, Vieira – ou ‘Ventoinha’, como lhe chamava o pai de forma carinhosa – mostrou sempre um dom para os negócios, e um olho para procurar as moedas que os outros deixavam para trás – literalmente, o presidente do SL Benfica divertia-se, na sua adolescência, a saltar o muro do Jardim Zoológico de Lisboa para recolher as moedas que os elefantes descartavam.
Começou a trabalhar com apenas 14 anos, quando se estreou como paquete. Filho de Fernando Vieira, pedreiro, e de Benvinda Ferreira, que trabalhava na fábrica confeções Simões, o jovem Vieira entrou oficialmente no mundo empresarial através do setor dos pneus, começando por baixo, mas rapidamente chamou a atenção dos seus patrões.
A trabalhar na Morgado e Fernando, em Campo de Ourique, revelou as suas capacidades de negociação, convencendo o patrão, Armando Marques, a dar-lhe parte do dinheiro de todas as vendas de jantes de liga leve feitas por si. Vieira começou como empregado de escritório, mas a sua habilidade nas vendas levou-o a mudar de área, e, também, de empresa. Seguiu para a Celestino Gomes Bessa, onde passou a auferir um ordenado acima da média, de 100 contos mensais.
Foi nesta área, e depois de abrir sociedade com Eduardo Carvalho na Auto-pneus da Póvoa (antes de chegar aos 30 anos de idade), que ganhou a alcunha de “Kadhafi dos Pneus”. Uma alcunha dada por Gomes de Lourosa, empresário do norte do país, que acusou Vieira de ser um ‘terrorista’ dos negócios, alegadamente por dominar o mercado sem dar hipótese aos concorrentes.
Os pneus foram apenas o ponto de partida, que o ajudou a estabelecer relações que o acompanhariam na ascensão ao topo. Nos anos 80 mudou para o ramo da construção civil, com a fundação da Obriverca. Foi sob essa bandeira que fez o seu nome como empresário a nível nacional, passando depois para o setor do imobiliário.
Se fez a sua fortuna e carreira como empresário nos pneus, na construção civil e no imobiliário, viveu sempre uma vida paralela associada ao futebol, com as origens no Futebol Clube de Alverca. Em meados da década de 1980, intensificou a sua relação com Jorge Nuno Pinto da Costa, presidente do FC Porto, clube do qual chegou mesmo a ser o sócio número 17599, registado em 1985. Em 1991, assumiu a presidência do clube de Alverca, que levou desde a II Divisão B até ao principal escalão do futebol profissional português. Também se associou ao Sporting e ao SL Benfica.
A relação com Pinto da Costa, entretanto, azedou e o empresário entrou no clube encarnado em 2001, como assessor da SAD benfiquista. Dois anos depois, em 2003, com a sonante transferência de Pedro Mantorras (de Alverca para a Luz) pelo meio, tornou-se o 33.º presidente do Benfica.
Já lá vão 18 anos, muitos títulos e uma obra indiscutível. Luís Filipe Vieira é tido como um dos principais responsáveis pela construção do novo Estádio da Luz, bem como do centro de estágios no Seixal, e detém o recorde de presidente com mais tempo de mandato nos anais do clube encarnado.
Vieira e Benfica confundem-se, tornaram-se quase sinónimos – até na vida pessoal. Vanda, a sua mulher, é sobrinha de António Simões, nome mítico do clube, de que o empresário é o sócio número 7331. Os últimos anos, no entanto, foram turbulentos para o Presidente do clube, que se viu envolvido em vários casos polémicos relacionados com a justiça. Em outubro de 2020 foi reeleito para o sexto mandato – que prometeu ser o último – com 62,59% dos votos.
Casos
Não se faz um império sem fazer inimigos, e Luís Filipe Vieira tem à sua volta uma panóplia de situações problemáticas. Desde a condenação a 20 meses de prisão por ajudar a roubar um camião em 1984, até ao envolvimento em casos como a Operação Lex ou o inquérito ao Novo Banco, Vieira tem estado debaixo de fogo desde o início da sua vida como empresário, dentro e fora do mundo do futebol.