Mede apenas cerca de 20 centímetros mas está a gerar uma expectativa enorme. Cabeça de Urso, um dos oito desenhos de Leonardo Da Vinci ainda em mãos particulares, vai hoje a leilão em Londres. Executado “em ponta de prata” num papel “preparado” rosa-claro (técnica que Leonardo aprendeu com o seu mestre florentino Andrea del Verrocchio), prevê-se que possa ser arrematado por um valor a rondar entre os nove e os 14 milhões de euros, o que seria um recorde para um desenho do artista toscano.
“A Christie’s tem o orgulho de oferecer outra obra do, indiscutivelmente, maior artista que o mundo já conheceu”, disse Stijn Alsteens, da Christie’s. “Tenho todos os motivos para acreditar que atingiremos um novo recorde em julho com a Cabeça de Urso, um dos últimos desenhos de Leonardo que devem chegar ao mercado”, acrescentou.
Trata-se verdadeiramente de um leilão global. O desenho esteve em exposição em três continentes: em maio, na Christie’s no Rockefeller Center em Nova York; daí seguiu para Hong Kong; e finalmente “aterrou” em Londres, onde se encontra desde junho.
“Estou muito satisfeito que esta obra-prima, uma das obras mais importantes do Renascimento ainda em mãos privadas, tenha sido, mais uma vez, confiada à Christie’s após sua primeira venda em 1860. A obra foi propriedade de alguns dos mais ilustres colecionadores no campo dos Antigos Mestres ao longo de muitos séculos”, comentou Ben Hall, diretor do departamento de pintura antiga da Christie’s de Nova Iorque.
O_desenho, que apresenta grandes semelhanças com o focinho do animal representado no retrato Dama do Arminho (do Museu de Cracóvia), pertenceu a Sir Thomas Lawrence (1769-1830), o célebre pintor britânico da alta sociedade, cuja coleção de desenhos de antigos mestres é considerada uma das maiores e mais criteriosas alguma vez reunidas. Após a morte do artista, a cabeça de urso foi passada para o marchand de arte (e seu principal credor) Samuel Woodburn, que o vendeu na Christie’s em 1860 por uns meros 2,50 dólares. Na primeira metade do século XX, o desenho pertencia à coleção de outro grande colecionador britânico, o capitão Norman Robert Colville.
Da Vinci no centro de batalha legal em França
Outro pequeno desenho do mestre toscano, feito em “bico de pena”, que representa o Martírio de São Sebastião, encontra-se por estes dias no centro de uma disputa juficial.
O São Sebastião é um dos vários desenhos e gravuras que Jean B., que está na casa dos 80 e pediu para não ser totalmente identificado, recebeu de presente do seu pai por ter passado nos exames da faculdade de medicina em 1959. E ali ficou fechado desde então.
Deparando-se com a caixa de desenhos mais de cinquenta anos depois, durante uma mudança de casa em 2016, o proprietário decidiu entregá-los à casa de leilões Tajan para que fossem avaliados. Um deles foi identificado como saído da mão de Leonardo e, ao tomar conhecimento do seu valor (estimado entre 8 e 12 milhões de euros), Jean B. decidiu vendê-lo. Acontece que o desenho foi decretado “tesouro nacional” pelo Ministério da Cultura de França, o que impede a sua saída do país. Cabe agora à Justiça francesa decidir se o proprietário pode ou não vendê-lo a um colecionador estrangeiro.