Caso Meco. Ex-‘dux’ da Lusófona não apresentava sinais de pré-afogamento

João Gouveia “não parecia confuso nem evidenciava sinais de dificuldades respiratórias” – sintomas comuns em pessoas que estiveram em pré-afogamento – e só se queixou de dores de cabeça, revelou o médico que assistiu o universitário no Hospital Garcia de Orta.

João Gouveia, o ex-‘dux’ da Universidade Lusófona e único sobrevivente da tragédia do Meco, não apresentava sinais de pré-afogamento, revelou, esta terça-feira, o médico de serviço no Hospital Garcia de Orta, onde o estudante universitário foi assistido.

Ouvido esta manhã no julgamento cível, no Tribunal de Setúbal, o médico José de Melo Medeiros afirmou que João Gouveia “não parecia confuso nem evidenciava sinais de dificuldades respiratórias" – sintomas comuns em pessoas que estiveram em pré-afogamento – e só se queixou de dores de cabeça.

No entanto, o médico admitiu que o ex-‘dux’ possa ter sentido alguns desses sintomas quando foi assistido na praia do Meco pelos Bombeiros de Sesimbra e por uma equipa de emergência médica, horas antes de dar entrada no hospital, mas que não lhe foi comunicada qualquer informação acerca da existência de sintomas.

O advogado das famílias das seis vítimas mortais da tragédia do Meco considera que os novos testemunhos provam as “contradições” de João Gouveia e sustentam a tese de que o jovem “nunca terá estado naquele mar”.

"A descrição que é feita dos acontecimentos não bate certo com aquilo que ele [João Gouveia] disse. Hoje ficou mais uma vez claro que houve aqui pormenores que as testemunhas trouxeram ao conhecimento do tribunal que contradizem, claramente, aquilo que o mesmo [João Gouveia] referiu no tribunal, nomeadamente o facto, que ele terá dito, de que saiu do mar e rastejou até ao gorro", disse Vítor Parente Ribeiro.

"Hoje ficámos a saber que ele, ao senhor da Polícia Marítima, terá dito que, inclusive, saiu do mar e não se dirigiu logo ao gorro, mas terá até andado à procura dos colegas no areal", acrescentou, referindo-se ao testemunho do então segundo comandante da Polícia Marítima de Setúbal, também esta quarta-feira.

Vítor Parente Ribeiro lamentou ainda o facto de não ter tido acesso ao relatório do INEM e de a gravação da chamada feita ao número europeu de emergência “não existir”. "Nós nunca tivemos acesso ao relatório do INEM. Mas mais, a própria gravação que é feita para o 112, curiosamente, não existe. É mais uma das situações que levam a que este processo seja assombrado por esta neblina", disse.

"Tudo o que seriam elementos muito relevantes para a descoberta da verdade desapareceram e não percebemos como é que é possível, dado que todas as chamadas para o 112 são gravadas. Curiosamente, naquele dia, aparentemente, o gravador não estaria a funcionar", acrescentou.

Recorde-se que foram interpostas seis ações cíveis, em 2016, contra o ‘Dux’ João Gouveia e a COFAC — Cooperativa de Formação e Animação Cultural, CRL (Universidade Lusófona), segundo a família das seis vítimas mortais da tragédia, que ocorreu a 15 de dezembro de 2013. Os pais das vítimas reclamam cerca de 225 mil euros, o que perfaz um valor global que ronda um milhão e 350 mil euros.

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