No passado dia 22 de maio, mais de 150 pessoas bloquearam a Rotunda do Relógio perto do Aeroporto de Lisboa, a reivindicar “Menos Aviões, Transição Justa, e Mais Ferrovia”. Destas, 26 foram detidas no decorrer da ação “Em Chamas” e apresentam uma queixa-crime, ao Ministério Público, contra a PSP, por revistas abusivas e discriminatórias. Inês Teles, de 31 anos, ativista pela justiça climática, foi uma delas.
“Aconteceu uma ação de desobediência civil, completamente não violenta. Tínhamos três pilares: redução da aviação, transição justa para os trabalhadores da área e um investimento massivo na ferrovia”, explica, adiantando que a ação foi levada a cabo “com autorização”.
No entanto, “após vários avisos de dispersão, a PSP retirou as pessoas que estavam a bloquear dois acessos e colocou-as em duas carrinhas de detenção que já lá estavam”, sendo que, segundo Inês, em declarações ao i, foram levados para a esquadra dos Olivais.
”Quando lá chegámos, separaram os homens das mulheres. As mulheres foram levadas por policias para compartimentos onde foram revistadas e obrigadas a despir-se e, algumas delas, a agachar-se para provar que não constituíam uma ameaça”, diz a jovem. “Houve várias pessoas que questionaram o motivo pelo qual tinham de tirar as cuecas e o soutien, mas os polícias respondiam como se não fizesse sentido colocarem questões”.
"Não há manobras que nos travem"
Apesar de assumir que nem todas as detidas tiveram de tirar a roupa interior, Inês insiste que quiseram saber qual foi o critério para que algumas fossem confrontadas com essa ordem. Por esse motivo, fizeram um requerimento ao comandante questionando-o acerca do fundamento das revistas.
“Normalmente, uma acusação de desobediência civil não as justifica e questionámos os critérios que levaram a esta separação porque os homens não se despiram. A resposta foi que não houve qualquer tipo de incumprimento por parte da PSP, mas, relativamente à questão dos critérios de género, não houve qualquer tipo de resposta”, frisa.
No passado dia 2 de junho, numa nota de repúdio partilhada por vários coletivos feministas e pela justiça climática, lia-se que “na esquadra, por algum motivo, o género cinge-se à distinção entre mulheres e homens e, estranhamente, as mulheres são consideradas mais suspeitas que os homens”, na medida em que “enquanto o grupo masculino experienciou uma mera revista superficial, que se expressou no tateamento por cima da sua roupa, as mulheres foram forçadas à nudez” e “algumas mulheres foram, inclusive, intimidadas verbalmente, quando já se encontravam numa situação de extrema vulnerabilidade, o que se afigura inaceitável”.
“Fui uma das detidas e pediram-me que tirasse a roupa interior. Encaramos isto como uma estratégia de humilhação e intimidação”, declara, lembrando que, em ações semelhantes que a Climáximo realizou anteriormente, “não houve sequer pessoas identificadas”.
“Houve um claro escalamento na forma como a PSP decidiu tratar uma situação destas. Mesmo na esquadra foi sempre pouco claro o porquê de estarmos lá”, salienta, adiantando que a última ativista saiu do posto por volta das 2h, nove horas após a detenção.
“Saímos à rua por algo que continua a existir e não vamos desistir. As pessoas continuam motivadas. No final da ação, foi acordado que bloquearemos uma das estruturas responsáveis pela maior emissão de gases com efeito estufa. Não há manobras que nos travem”, finaliza.