Quem são os portugueses que prometem em Tóquio?

A caminho dos Jogos Olímpicos, a comitiva portuguesa era composta por 92 atletas de 17 modalidades diferentes, dos quais fazem parte fortes candidatos a levar a medalha para casa. Alguns já saborearam o metal das medalhas, outros ainda procuram esse sabor, mas todos têm algo em comum: a vontade de não regressar a casa de…

João Almeida. Dos holofotes da Volta a Itália às estradas de Tóquio

Pelo segundo ano consecutivo, João Almeida brilhou na Volta a Itália. O jovem ciclista, de 22 anos, liderou em 2020 o Giro durante 15 dias e em 2021 findou a competição no sexto lugar da classificação geral. Agora, chegou a vez de Almeida fazer a sua estreia olímpica e mostrar do que é feito em Tóquio’2020. O ciclista de Caldas da Rainha vai competir nos Jogos Olímpicos de Tóquio’2020, na modalidade de ciclismo de estrada, onde se juntará a Nélson Oliveira na luta pelas medalhas. 

Oliveira, aos 32 anos, contará a terceira participação nos Jogos, mas Almeida será estreante e ambos vão dar as primeiras pedaladas hoje, na primeira prova de ciclismo de estrada: a de fundo. Já no dia 28 realiza-se o contrarrelógio.

O Pantera, como lhe passou a chamar a mãe, devido à aparência que lhe dá o fato de ciclista, tem aqui a oportunidade de brilhar como tem brilhado nas últimas duas edições do Giro, e até na Volta aos Emiratos Árabes Unidos, onde, em fevereiro deste ano, Almeida acabou em terceiro, atrás do britânico Adam Yates e do esloveno Tadej Pogacar (que venceu recentemente a Volta a França), de quem distou apenas 1:02 minutos.

«É um orgulho ser convocado para uma corrida desta dimensão. Não estava à espera, porque era suposto serem o ano passado. Como foram adiados, e dada a época que fiz o ano passado e este ano, sabia que havia uma possibilidade. Daí a ser realidade…», dizia o ciclista à Lusa em junho deste ano, quando hesitava em afirmar que traria medalhas para casa. É uma grande expectativa, afirmava, ainda assim, apontando Nélson Oliveira como o principal candidato aos pódios.

Telma Monteiro. A judoca que conta 15 medalhas em 15 europeus

Há um nome português que capta sempre a atenção nos Jogos Olímpicos, mais especificamente no judo, na categoria feminina de -57kg. Trata-se de Telma Monteiro, a judoca portuguesa que, ao conquistar o ouro nos Europeus de Lisboa, em maio deste ano, alcançou um grande feito: Monteiro conta com 15 medalhas em 15 Europeus diferentes de judo, seis das quais de ouro.

É um recorde na competição, alcançado pela judoca de 35 anos, que ultrapassou o registo da austríaca Edith Hrovath, a única judoca que conquistou 14 medalhas em Campeonatos da Europa, competindo numa única categoria por ano.

Agora, é a vez de Telma Monteiro voltar a levar a bandeira aos Jogos Olímpicos, depois de participações nas edições do Rio de Janeiro, em 2016, onde alcançou a medalha de bronze, Londres, em 2012 (17.º lugar), Pequim, em 2008 (9.º lugar), e Atenas, em 2004 (9.º lugar).

Monteiro levou literalmente a bandeira a Tóquio, pois foi porta-estandarte na cerimónia de abertura dos Jogos, na sexta-feira, repetindo o feito de 2012, quando também foi a escolhida para carregar a bandeira nacional, naquele momento em Londres. Agora, o primeiro teste para a judoca chega na madrugada de dia 26 de julho, quando enfrentará Zouleiha Abzetta Dabonne, da Costa de Marfim.

Monteiro é uma das atletas olímpicas mais experientes da comitiva, e com o conhecimento de quem vai para a quinta participação em Jogos vem a experiência, que a mesma partilhou com a seleção de andebol olímpica, que é estreante na competição. Paulo Jorge Pereira convidou a judoca de forma a «ter o depoimento de uma atleta olímpica portuguesa de eleição».

Pedro Pichardo. Aos saltos até à medalha de ouro

De Cuba para o mundo, são vários os atletas portugueses que nasceram nesse país das Caraíbas, mas escolheram o verde e vermelho para representar nos Jogos Olímpicos de 2020. Um deles é Pedro Pablo Pichardo, o atleta luso-cubano que fez furor nos Europeus de Atletismo em Pista Coberta, onde conquistou o ouro no triplo salto, após ‘voar’ mais de 17 metros.

Em julho, Pichardo repetiu (e melhorou) a façanha, ao saltar 17,92 metros no Memorial István Gyulai (Hungria), a melhor marca mundial do ano. Um recorde que bateu… a si mesmo. Afinal de contas, era Pichardo quem tinha já definido a melhor marca de 2021 até então, em Madrid, quando saltou 17,69 metros.

Tudo aponta para um desempenho de sucesso do luso-cubano nos Jogos Olímpicos de Tóquio, onde se vai estrear. Quem sabe se o atleta não baterá o seu recorde pessoal de 18,08 metros, alcançado em 2015, ainda com as cores da seleção nacional cubana, que o colocam como o quinto melhor salto de sempre na história da modalidade.

Em 2017, Pichardo desertou da concentração cubana que se fazia na Alemanha, e chegou a Portugal dias depois, conseguindo a naturalização ainda no mesmo ano e a permissão para competir internacionalmente como português em 2019.

O luso-cubano ficou em quarto lugar nos Mundiais de atletismo em 2019, seguindo-se o ouro nos Europeus de Pista Coberta, em 2021, e faltando agora saber quão longe conseguirá chegar em Tóquio.

Auriol Dongmo. À procura de mais lágrimas ao som de A Portuguesa

Nos mesmos Europeus de Atletismo de Pista Coberta onde brilhou Pichardo, e onde a seleção nacional teve o melhor desempenho de sempre – 3 medalhas de ouro e 26 no total – há mais um nome que ficará gravado na memória dos adeptos desta modalidade para sempre: Auriol Dongmo. A atleta, nascida nos Camarões, mudou-se para Leiria em 2017 e passou a representar Portugal em julho de 2020. 

Significa isto que estes serão os primeiros Jogos Olímpicos onde Dongmo irá representar as cores portuguesas, mas não é a sua primeira participação olímpica, tendo feito parte em 2016, no Rio de Janeiro, sob a bandeira dos Camarões. A modalidade de eleição é o lançamento do peso, e Dongmo é boa no que faz. A prestação de 2016 valeu-lhe o 12.º lugar, com um lançamento de 16,99 metros, mas as marcas têm melhorado substancialmente deste então.

A fé move montanhas, ou pelo menos assim o é no caso de Auriol Dongmo. A atleta é devota de Nossa Senhora de Fátima, mulher de fé, e a mudança para Leiria – bem perto do Santuário de Fátima – parece ter sido uma movida importante no seu desenvolvimento atlético.

Dos 16,99 metros nos Jogos do Rio, Dongmo evoluiu os seus lançamentos e atingiu a marca dos 19,75 metros em junho, batendo o recorde nacional, que já era seu. Em Torun, na Polónia, bastaram 19,34 metros para assegurar o ouro à luso camaronesa, e, agora, tem pela frente os Jogos Olímpicos, onde quer ultrapassar a barreira dos 20 metros.

Nelson Évora. Melhor do que um ouro, só mais dois ou três

Nélson Évora é sempre um dos principais candidatos portugueses às medalhas, principalmente no triplo salto. Após o ouro nos Jogos Olímpicos de 2008, em Pequim, Évora quer, agora em Tóquio, repetir o feito. O Japão, aliás, é um lugar onde Évora já foi muito feliz, após, em 2007, ter sido coroado campeão mundial de triplo salto, em Osaka, com um salto de 17,74 metros. 

A carreira já vai longa e foi no início do milénio que começou a fazer surgir o seu nome nas manchetes dos jornais. Para além do Campeonato Mundial em 2007 e do ouro olímpico em 2008, Évora venceu o ouro nos Jogos da Lusofonia, em 2009, e, mais tarde, em 2017, o atleta voltou a subir ao lugar principal do pódio, nos Europeus de Pista Coberta, competição onde, em 2019, ficou em segundo lugar.

Évora esteve no FC Porto, entre 2002 e 2004, ano em que se mudou para o SL Benfica. Desde 2016, no entanto, que o atleta representa as cores do FC Barcelona.

Nélson Évora – o único campeão olímpico português em atividade – chegou a Portugal aos cinco anos de idade, filho de pais cabo-verdianos, apesar de ter nascido na Costa de Marfim. Em 2002, naturalizou-se português e desde então representou o país em todas as edições exceto em 2012, portanto três edições no total. Para 2020, valeu o 28.º lugar no ranking mundial para assegurar um espaço nesta edição dos Jogos.

Ao chegar a Tóquio, aos 37 anos, Évora foi porta-estandarte, juntamente comTelma Monteiro, e o atleta confessa estar orgulhoso só de poder participar em mais um evento olímpico. «É bom sentir o carinho de todos e, nestes últimos meses, tenho a agradecer todas as mensagens dos portugueses, porque não me exigiram medalhas. Disseram-me: ‘Nelson, independentemente do que faças lá, muito obrigado’. Isso para mim é a melhor mensagem de apoio que me podem dar», revelava o atleta antes de partir para Tóquio, mostrando-se tranquilo com a competição.

«Parto com pensamento positivo e com o mesmo espírito de sempre, de chegar, passar a fase mais difícil, que é a de qualificação, e, na final, fazer o melhor salto possível e desfrutar ao máximo do aspeto competitivo», concluiu o atleta, que vai ser acompanhado no triplo salto por Pablo Pedro Pichardo e o estreante campeão nacional, Tiago Pereira.

Jorge Fonseca. O duplo campeão mundial à procura do ouro olímpico

Jorge Fonseca é um dos principais candidatos portugueses aos pódios nos Jogos Olímpicos de Tóquio’2020. O atleta, nascido em São Tomé e Príncipe, tem boas memórias da capital japonesa. Afinal de contas, foi lá que se tornou campeão mundial na categoria de -100kg pela primeira vez, em 2019, e o primeiro português a vencer qualquer categoria do Campeonato do Mundo de judo.

Diz-se pela primeira vez porque, dois anos depois, em Budapeste, Fonseca renovou o título, com a medalha de ouro. O judoca está faminto de medalhas olímpicas após, em 2016, ter sido derrotado no segundo combate. A saída em lágrimas do Rio poderá ser substituída pela glória em Tóquio, onde Fonseca, aos 28 anos, chega como segundo classificado no ranking mundial.

O sentido de humor do judoca é uma das suas marcas de identidade e não faltou na partida para Tóquio. «Se ganhar, vou dançar um pimbazinho para mostrar quem manda ali», disse aos jornalistas antes da partida. É o seguimento de uma tradição que marca as vitórias de Fonseca, que costuma dar um pé de dança depois de cada vitória, ali mesmo no tatami.

Num tom mais sério, no entanto, Fonseca não deixou de fora o que realmente importa no assunto: a medalha olímpica. «É uma das provas mais importantes do ranking mundial, é o sonho de qualquer atleta estar nos Jogos Olímpicos, mas eu não sinto pressão. Estou disponível a encarar qualquer um. A pressão é uma coisa que está do outro lado. Eu já ganhei, agora é chegar ali, fazer algo diferente e ter um objetivo», realçou.

A história de Jorge Fonseca – que chegou a Portugal aos 11 anos de idade – fora do tatami é também de luta, não contra um adversário físico, mas sim contra a doença. Em 2015, o judoca teve cancro nos ossos de uma perna e travou uma longa batalha, que acabou por vencer, mas não sem dificuldades pelo caminho. Uma ‘terceira bola’, como brincavam os colegas de balneário, acabou por ser um tumor ósseo. Tempos difíceis, nos quais valeu o apoio do médico Manuel Passarinho.

Em entrevista ao Tribuna Expresso, Fonseca relatou como foi o anúncio da doença, e as «melhores palavras que pudessem ser ditas naquele momento». «Toda a gente estava triste, eu e o Pedro chorávamos e ele veio de lá e disse ‘Ouve lá ó preto, tu vais superar essa doença e tu vais ser o maior. Já te arranjei os melhores médicos, não te preocupes, daqui as seis meses tu vais estar bem’».

Patrícia Mamona. Do sofrimento com covid-19 aos Jogos Olímpicos

Patrícia Mamona nunca viu uma medalha olímpica ao peito, mas este ano promete. A atleta, de 32 anos, conquistou o ouro no triplo salto nos Europeus de Atletismo de Pista Coberta, em março deste ano, o que augura um bom desempenho nos Jogos Olímpicos de Tóquio.

Mamona conta já com uma extensa carreira e um admirável conjunto de medalhas alcançadas, conjugadas incrivelmente com o curso de Medicina tirado na Universidade Clemson, no estado americano da Carolina do Sul, o que lhe permitiu concorrer no circuito universitário norte-americano.

Desde 2011 que representa as cores do Sporting Clube de Portugal e, em 2012, assegurou a prata nos Campeonatos da Europa de Helsínquia. Quatro anos depois, em 2016, chegaria o primeiro ouro da atleta, nos Europeus de Amesterdão. 14,58 metros deram para conquistar o lugar principal do pódio e para estabelecer um novo recorde nacional de triplo salto feminino.

Os feitos valeram-lhe o título de comendadora da Ordem do Mérito, que recebeu em julho desse ano. Título que levou aos Jogos do Rio, onde concluiu a participação  na 6.ª posição, o que significou a melhor classificação de sempre do triplo salto feminino português, com um salto de 14,65 metros.

O maior e mais recente feito, no entanto, prende-se com o desempenho nos Europeus de Atletismo de Pista Coberta de 2021, na Polónia. No mesmo sítio onde Pedro Pichardo e Nelson Évora conquistaram o ouro, Mamona também subiu ao pódio e elevou a contagem de medalhas de ouro para três. 14.53 metros foi a marca que a atleta alcançou. Isto apenas cinco semanas depois de ter passado um mau bocado, após ter sido infetada com o novo coronavírus.

As lágrimas quando se ouviu o hino nacional na Polónia revelavam um momento de forte emoção e a atleta, mais tarde, veio revelar a ligação com uma passagem desagradável pela doença que assola o mundo desde março de 2020. «Estes Campeonatos foram uma alegria mas acima de tudo foram uma lição de vida a nível pessoal. Digo isto porque chegar até aqui foi extremamente complicado, foi tudo à última», revelou a atleta, depois de receber a medalha.

Depois desse sucesso, Patrícia Mamona arranca agora a participação em Tóquio a 30 de julho, no triplo salto. O pódio está lá à sua espera.

Fernando Pimenta. O caminho das únicas medalhas que teimam em fugir

Na madrugada do dia 2 de agosto é a hora de brilhar para Fernando Pimenta. O canoísta, que vai participar na categoria K1 1000 metros, tem a primeira prova nesse dia. Mas, para um atleta tão experiente como o é Fernando Pimenta, tal não deverá ser motivo de muitas dores de cabeça.

Aos 31 anos, Pimenta vai participar nos Jogos Olímpicos pela terceira vez na sua vida, após as presenças em Londres, em 2012, e no Rio, em 2016. O grande feito de Pimenta foi a medalha de prata nos Jogos de 2012, em K2 1000 metros, junto de Emanuel Silva, mas este foi só o ponto alto de uma carreira que conta com vários sucessos.

A participação no Rio 2016 findou com o quinto lugar em K1 1000 metros e o sexto lugar em K4 1000 metros, e, entretanto, Pimenta foi conquistando outras medalhas aqui e ali. Nos Europeus de Canoagem de Moscovo, em 2016, antes dos Jogos do Rio, Fernando Pimenta tinha já conquistado o ouro em K1 1000 metros e K1 5000 metros.

Depois, em K1 1000 metros, seguiram-se dois anos de medalhas de ouro nos Europeus, em Plovdiv (2017) e em Belgrado, em 2018, ano em que também conquistou o ouro nos Mundiais de canoagem. Em 2021, Pimenta ficou-se pela prata em Poznan, a pouco mais de um mês do arranque dos Jogos, mas conseguiu o ouro no Campeonato Nacional de Fundo, em K1 5000 metros.

O canoísta começou a praticar o desporto aos 11 anos, no Clube Náutico de Ponte de Lima, e agora, 20 anos depois, parece estar no auge da sua carreira. A prata em Londres, em 2012, abriu portas a vários outros sucessos, e em Tóquio, espera-se que o desempenho venha a coincidir com estes bons resultados.

«Vou dar tudo por tudo para conseguir o melhor resultado possível. Já o fiz durante este tempo todo de preparação, com inúmeros sacrifícios, e agora vou desfrutar do processo da competição. Os portugueses podem contar com o Fernando Pimenta de sempre: lutador, sonhador, ambicioso, humilde e com muita vontade de representar Portugal e de conquistar um grande resultado», prometeu Pimenta antes de partir para Tóquio, num estilo de grito de guerra. «Como o meu palmarés e currículo têm resultados de relevo, é óbvio que toda a gente tem uma enorme expectativa nos meus resultados», afirmou ainda o canoísta.