O fascínio do poder

O economista Paulo Guedes era uma referência do pensamento liberal no Brasil. Frequentemente citado por Roberto Campos como seu herdeiro na defesa de um Estado moderno, leve, aberto ao investimento, à geração de bons empregos.

por Aristóteles Drummond

Depois de uma vitoriosa carreira no mercado financeiro, onde acumulou razoável fortuna, e de ter criado uma faculdade de referência na qualidade do ensino, optou pelo setor público.

Primeiro, escrevendo para a grande mídia e dando entrevistas; depois, na assessoria do então candidato Jair Bolsonaro. Eleito, o Presidente deu-lhe plenos poderes na economia, criou um superministério e foi ele o responsável pela credibilidade de um governo que chegava com milhões de votos e zero de experiência.

Guedes formou uma equipe de estrelas, inclusive convocando, na livre empresa, grandes nomes como o de Salim Mattar, dono da maior locadora de veículos da América do Sul.

O estilo e o temperamento do Presidente acabaram com o respeito e o prestígio do economista. A demissão do presidente da Petrobras, Roberto Castelo Branco, altamente conceituado, foi um baque, seguido da substituição do presidente do Banco do Brasil e o pedido de demissão de Salim Mattar responsável pelas privatizações, além de mais meia dúzia de membros da equipe respeitados no mercado. Tudo isso foi desgastando aquele que foi o poderoso ministro da Economia.

Os infindáveis apoios a pretexto da pandemia a milhões de brasileiros, mas de fundo eleitoreiras, aumentando o endividamento do governo, acabaram com o sonho de uma abertura da economia para receber investimentos.

Agora, o Ministério da Economia perde parte de suas atribuições para a criação de mais um ministério, para acomodar políticos. A economia vai bem, o mercado é grande e o agronegócio, forte. Mas a inflação ameaça, a instabilidade política inibe o investimento.

Paulo Guedes deve ter pensado ao ir para o governo enriquecer sua biografia mas o apego ao cargo certamente vai é macular a sua história de vida. O mundo está reagindo melhor do que o Brasil e ele cada vez com menos tempo e espaço para acertar.

Uma pena!

 

Variedades

• O prefeito do Rio, Eduardo Paes, garantiu que a cidade terá de volta seus dois maiores eventos: o Réveillon e o Carnaval. Até lá, a vacinação vai garantir a segurança.

• Na área da covid, o Brasil não vai comprar a Sputnik e esta semana marca 180 milhões de aplicações e pouco mais da metade da população com, pelo menos, uma dose. São Paulo convoca 700 mil pessoas que não foram tomar a segunda dose. A média de óbitos cai, mas ainda nos mais de mil por dia.

• O governo de Brasília autorizou a construção de seu primeiro crematório. Ficará pronto daqui a um ano.

• São quatro milhões de brasileiros cadastrados na bolsa. A pandemia fez aumentar o número de pequenos e médios investidores em ações.

• Semana de volta do Congresso e a CPI da pandemia encurralando o presidente. Mas sem apurar os desvios de governadores, dois dos quais filhos de senadores. O senador Ciro Nogueira que assumiu a Casa Civil tem experiência política relevante, mas não deve conseguir controlar o Presidente , que é o provocador das crises.

• O frio é o maior em mais de 20 anos e chega até o Rio de Janeiro.

• O humor do brasileiro fica em alta quando o Flamengo vai bem como agora.

• A Unesco reconheceu como Património da Humanidade o sítio no Rio de Janeiro, do paisagista, botânico e pintor Roberto Burle Marx. É de sua autoria mais de uma dezena de jardins em Brasília e no Rio, a referência maior são os jardins do Museu de Arte Moderna, entre muitos outros. Burle Marx mereceu um exposição no Jardim Botânico de Nova Iorque.

 

Rio de Janeiro, julho de 2021