George Clooney. Estrela no grande ecrã, voluntário na vida real

O ator e produtor norte-americano foi dos primeiros a “arregaçar as mangas” e vai ajudar na angariação de fundos para a reconstrução de Laglio, no norte da Itália, que ficou devastada pelas chuvas fortes da semana passada.

Quando se pesquisa no Google o nome de Laglio, os resultados devolvem-nos imagens de paisagens verdes, românticas vistas, soberbas mansões de milionários à beira do Lago de Como, o terceiro maior de Itália. Mas agora o cenário é outro. As chuvas diluvianas que desabaram sobre o centro da Europa deixaram um rasto de destroços, a água invadiu todos recantos, desalojou famílias e gerou um enorme receio daquilo que virá depois.

Mas eis que, do caos, emergiu um heroi inesperado: para aliviar o sofrimento dos mais afetados, o ator norte-americano George Clooney, apaixonado pela região há mais de 20 anos e proprietário de uma villa à beira do lago, “arregaçou as mangas” e promete ajudar naquilo que for necessário.

 

O DESASTRE

Na passada terça-feira, 27 de julho, as nuvens cobriram o céu com uma grande mancha negra e “abriram portas” para uma chuva torrencial que resultou num cenário de “terror” para os habitantes do norte da Itália.

Enquanto as chuvas, ao longo de três dias, destruíam as casas menos resistentes, os moradores procuravam locais seguros onde se abrigar. Lamas e destroços vieram pelas montanhas abaixo e abateram-se sobre esta que é uma das áreas turísticas mais exclusivas de Itália. Mas poderá vir justamente daí a sua salvação: a zona é frequentemente visitada por nomes conhecidos nos grandes ecrãs. E George Clooney foi um dos primeiros a querer prestar auxílio.

Desde 2002 que a mansão Villa Oleandra é o local escolhido pelo ator e pela sua família para aproveitar os verões. Clooney gastou 12 milhões de euros nesse “pequeno paraíso” que tem sido desfrutado pela sua família e amigos. Com vistas sensacionais da água e dos Alpes, a imponente villa tem 25 quartos, um cais privado, um cinema ao ar livre e um imenso parque que tem sido palco de eventos solidários organizados pelo artista. Os Obama foram os últimos felizes contemplados da longa lista de ilustres hóspedes da mansão. Mas por ela já passaram nomes como os duques de Sussex, Brad Pitt, Matt Damon, Jenniffer Aniston, Michael Douglas e Catherine Zeta Jones, entre outras estrelas. No verão passado, o Príncipe Harry e Meghan Markle passaram umas férias curtas de recém-casados ju​ntamente com George, Amal e os seus filhos.

Apesar deste período pandémico não ter permitido aos proprietários regressar à Villa Oleandra tantas vezes como desejaria, na altura do desastre a família já lá se encontrava há algumas semanas. E Clooney não perdeu tempo. Deslocou-se de imediato aos locais mais afetados e ajudou na limpeza e na retirada dos escombros, juntamente com outros voluntários. Mais anunciou ainda que usará a sua visibilidade para tentar arrecadar fundos para Laglio, até porque a sua própria mansão foi afetada e degradada em consequência das lamas e detritos arrastados pelas chuvas.

 

EM BUSCA DE RESILIÊNCIA

Segundo Roberto Pozzi, presidente da Câmara de Laglio, em declarações ao jornal britânico The Times, “Clooney foi rápido em resolver o problema por conta própria”. “Veio direto para a autarquia para saber o que é que tinha acontecido e nós levámo-lo a dar uma volta para verificar os estragos”, explicou Pozzi. “Estava muito preocupado e disse que queria ajudar. Vamos arrecadar fundos e ele vai usar os seus próprios ‘canais’ para fazê-lo, para que possamos ajudar as pessoas que ficaram desabrigadas”, acrescentou.

À televisão italiana, foi o próprio Clooney que falou, começando por se desculpar por não conseguir falar o idioma: “É muito pior do que eu pensava”, declarou em inglês. “Em Cernobbio [uma cidade mais ao sul] a situação é grave e em Laglio é ainda pior. Falei com o presidente e isto vai dar mesmo muito trabalho. Vai custar milhões de dólares! Mas eu acredito que esta cidade é forte, Roberto Pozzi vai reagir e será transformada numa coisa ainda melhor do que era antes. É uma cidade com grande capacidade de resiliência”, defendeu.

“Qualquer um que vier a Laglio arrancará os cabelos da seriedade da situação”, corroborou Pozzi ao Times. “Cerca de meio milhão de metros cúbicos de materiais inundaram a cidade. Precisamos que o governo declare o estado de emergência e nos dê um apoio financeiro extra”, pediu. Ao jornal inglês The Sun, Pozzi acrescentou que foi forçado a “ordenar a evacuação de 60 residentes que viviam em áreas de perigo e quatro casas perto da casa de George foram destruídas na enchente”.

 

O “ABRIGO” DE CLOONEY

A relação de Clooney com toda a região do Lago de Como e, em particular, com Laglio, de apenas 900 habitantes, já vem de trás. Em 2004, a Câmara Municipal de Laglio nomeou-o como “cidadão de honra”, manifestando o desejo de que o artista se mantivesse lá “por muito tempo”. “A sua ligação com a cidade já é um património que ninguém nos pode tirar”, disse o então autarca, Giuseppe Mantero. Mas apesar da localidade corresponder sempre às expectativas do ator, em 2010 tanta publicidade acabou por trazer problemas: não eram apenas os amigos do ator que apareciam. A Villa Oleandra começou a ser invadida por admiradores e especulou-se que o ator tivesse planos de a vender. Assim, para evitar o assédio e os convidados indesejados, em 2014 foi emitida uma norma que proíbe qualquer pessoa de se aproximar a menos de 100 metros da mansão, sob o risco de pagar uma multa de 500 euros.