Vitaly Shishov, de 26 anos, líder da Casa Bielorrussa na Ucrânia, uma organização não-governamental dedicada a apoiar exilados fugidos do regime de Alexander Lukashenko, foi encontrado enforcado num parque público de Kiev. A polícia ucraniana assumiu estar a investigar a possibilidade de se tratar de um “assassinato camuflado como suicídio”, avançou a France Press, tendo o ativista arranhões no corpo e no nariz consistentes com uma queda. O caso de Shishov surge dias após a fuga de uma velocista bielorrussa em Tóquio, em plenos Jogos Olímpicos. Algo que certamente terá embaraçado Lukashenko, mais conhecido como o último ditador da Europa.
Já os companheiros de Shishov não hesitam em apontar o dedo a Lukashenko. “Não há dúvidas de que esta foi uma operação planeada pelos serviços de segurança para liquidar um bielorrusso perigoso para o regime”, acusou a Casa Bielorrussa na Ucrânia, notando que o ativista já se queixara aos seu amigos de ser seguido quando saía para fazer jogging, através do Telegram – uma aplicação de mensagens encriptadas, muito popular entre a oposição bielorrussa, por receio de serem espiados.
Foi depois de sair de casa para fazer jogging, na segunda-feira de manhã, que Shishov ficou incontactável e foi dado como desaparecido. No comunicado da organização que dirigia, acrescentava-se que tinham sido alertados tanto por fontes locais como na Bielorrússia de que estavam a ser planeadas “várias provocações, incluindo raptos e liquidação” contra si.
Já a líder da oposição bielorrussa, Sviatlana Tsikhanouskaya, que escapou do país e tem percorrido a Europa à procura de apoio, afirmou-se “devastada” com a notícia da morte do ativista. “É preocupante que aqueles que fogem da Bielorrússia ainda não consigam estar seguros”, acrescentou Tsikhanouskaya, através do Twitter.
Medo Como tantos outros jovens bielorrusso, Shishov fugiu do seu país no início de 2020, no rescaldo das manifestações massivas que se seguiram às eleições presidenciais de agosto, que Lukashenko declarou ter ganho, entre acusações generalizadas de fraude eleitoral.
Após enfrentarem a brutalidade da polícia bielorrussa nas ruas, com detenções arbitrárias de manifestantes e espancamentos, bem como as perseguições pelas secretas de Lukashenko, ainda chamadas de KGB, os ativistas que conseguiram fugir não tiveram a vida facilitada. Entre a diáspora bielorrussa, o ambiente tornou-se quase de pânico após o regime ter a audácia de desviar um voo da Ryanair entre a Grécia e a Lituânia, através de uma falsa ameaça de bomba, para deter um jornalista da oposição, Roman Protasevich e a sua namorada, Sofia Sapega, em junho.
Boa parte dos ativistas fugidos dirigiram-se para países vizinhos, como a Lituânia, Polónia, Ucrânia. Neste último país, era a organização dirigida por Shishov que montava uma rede de apoio aos exilados – foi também para para a Ucrânia que escapou Arseni Zdanevitch, marido de Krystsina Tsimanouskaya, a velocista bielorrussa que escapou em Tóquio. O timming de ambos os casos adensou ainda mais as suspeitas de conspiração por trás da morte de Shishov.
Não seria a primeira vez que o regime bielorrusso seria acusado de algo do género. E há muito que as secretas do Kremlin se mostram capazes de assassinar opositores de Vladimir Putin em plena Europa, e o KGB de Lukashenko tem aprofundado os seus laços com os seus homólogos russos, para “contrariar as atividades destrutivas do Ocidente”, nas palavras de Sergei Naryshkin, líder do Serviço de Inteligência Estrangeiro da Rússia (SVR), citado em junho pelo Moscow Times.