Por Judite de Sousa, Jornalista
As próximas eleições presidenciais brasileiras poderão voltar a ser um caso interessante de estudo sobre as variáveis que configuram a política contemporânea. É certo que a realidade da América Latina não pode ser entendida em função dos paradigmas europeus. No entanto, a personalização das candidaturas, comportamentos, valores e princípios, personalidade e questões de caráter sobrepõem-se no mundo contemporâneo aos tradicionais conceitos de esquerda e direita, ao definhamento ideológico e à própria erosão das democracias.
Em outubro de 2022, o Brasil vai a votos. A esta distância é impossível conjeturar sobre vencedores e vencidos. O tempo em política é demasiadamente volátil. Dezoito meses é uma eternidade. Porém, os media brasileiros e os institutos de sondagens têm vindo a analisar o estado da opinião pública – 230 milhões de votantes – em função, preferencialmente, de dois candidatos: Jair Bolsonaro e Lula da Silva. O Presidente em exercício venceu as eleições de há três anos não por padrões políticos e éticos mas porque os brasileiros queriam castigar nas urnas um regime corrupto identificado com Lula da Silva e Dilma Rousseff. De então para cá, Jair Bolsonaro tornou-se numa figura carnavalesca aos olhos dos países civilizados e com lideranças minimamente credíveis. Os factos que protagonizou e as declarações que produziu dariam argumento de novela. A sua passagem pelo Palácio do Planalto fica principalmente marcada pela leviandade com que geriu, não gerindo, a pandemia com quedas sucessivas de ministros da Saúde e milhares e milhares de mortos enterrados em valas comuns perante a observação atónita do mundo.
Durante este tempo, Lula da Silva foi parcialmente reabilitado a nível judicial mas o selo da corrupção não se apagou. É nesta dualidade que as sondagens projetam, a ano e meio de distância, uma vitória de Bolsonaro numa segunda volta. Quando questionados, uma parte dos inquiridos dá a resposta de que prefere na presidência um louco que não roubou. Incrível? A seguir.