Sobre tomar a iniciativa e trabalhar em função de um objetivo, a sabedoria popular parece-me ambígua: se por um lado Deus dá apenas cruzes que os indivíduos conseguem carregar, por outro dá as nozes a quem não tem dentes. Ainda assim, julgo que a minha interpretação possa ajudar o leitor a encontrar o melhor caminho para os objetivos que pretenda alcançar.
Salvo raras exceções, as principais iniciativas que se possam tomar são solitárias, uma vez que é difícil encontrarem-se duas ou mais pessoas com os objetivos de tal forma alinhados, que faça sentido partilhar um trajeto árduo e demorado, como pode ser uma ideia de execução, uma organização, por aí fora.
Consequentemente, é imprescindível que, caso decida iniciar um qualquer projeto na sua vida, tome como o cenário provável encontrar companheiros temporários de viagem, mas ‘dobrar’ os momentos complicados com o mais importante dos apoios: o seu para si mesmo. É aqui que os dizeres populares conferem ao leitor a confirmação de que essa jornada é suscetível de ser terminada com sucesso (qualquer que seja a definição que lhe atribua), garantindo-lhe que independentemente das dificuldades que possam surgir, são tão grandes quanto a sua capacidade para as ultrapassar.
Ainda assim, a mesma sabedoria popular esclarece o momento no tempo em que as ‘cruzes’ se tornam mais leves: imediatamente após serem necessárias. Ou seja, salvo nas circunstâncias limite em que frequentemente milagres salvam o dia, é depois de construirmos fontes de rendimento com muito trabalho que surgem outras com maior prosperidade; é após iniciarmos um projeto para várias pessoas sozinhos que surgem os verdadeiros parceiros; é depois da necessidade resolvida que surge a solução que seria ideal.
Quero com isto transmitir-lhe que, na minha opinião, aceitar os piores cenários e executar uma ideia de forma que a mesma dependa apenas do leitor é o cenário que mais frutos lhe trará, pelo menos na infância da iniciativa.
Exposta a minha perspetiva em relação à temática, sublinho a importância de nos apoiarmos nas nossas competências e capacidades diferenciadas. Por vezes parece impossível perseverar-se perante as dificuldades iminentes apenas pelo desconhecimento das nossas ferramentas para o fazer. Se o leitor fosse um peixe, teria a capacidade para nadar, mas fora de água seria inútil. Foram-lhe conferidas apetências naturais: utilize-as.
Em suma, a vida é uma tábua de madeira com um prego superficialmente fixado: dói pregá-lo por completo com a palma da mão, razão pela qual deve descobrir onde está o seu martelo e, com algum esforço, completar a tarefa. Só depois é que vai encontrar a sua pistola de pregos. E na ausência de uma dentição completa, não espere que lhe descasquem o fruto seco: construa o seu quebra-nozes.