por Joana Mourão Carvalho*
Portugal vai enviar mais doses de vacinas contra a covid-19 para os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) e Timor-Leste ainda durante o mês de agosto, garantiu fonte do Ministério dos Negócios Estrangeiros ao i. Até 10 de agosto já tinham sido disponibilizadas 196 mil vacinas, ao abrigo do Plano de Ação contra a pandemia.
Oferta não prejudica estratégia
Mas haverá consequências no processo de vacinação em território nacional? Numa altura em que a vacinação universal das crianças entre os 12 e os 15 anos passou a ser recomendada pela Direção-Geral de Saúde (DGS) – António Costa espera que cerca de meio milhão de jovens tenha a vacinação completa até 19 de setembro, antes do início do ano letivo –, o Ministério dos Negócios Estrangeiros garante que a disponibilização de vacinas aos PALOP e a Timor-Leste “em nada prejudica a estratégia de vacinação em Portugal” e “é a assunção de uma responsabilidade fundamental, no quadro da cooperação internacional”.
Note-se que a logística destes envios não passa diretamente pela Task Force, que está encarregue da elaboração do plano de vacinação contra a covid-19 em Portugal, esclareceu fonte deste organismo ao i.
Também na quarta-feira, o vice-almirante Gouveia e Melo, coordenador da Task Force, assegurou que está tudo pronto para vacinar os adolescentes entre os 12 e os 15 anos nos dois últimos fins de semana de agosto.
“Nós planeámos esta ação para terminar a 19 de setembro”, esclareceu, apontando que se os jovens aderirem, por volta dessa data terão a vacinação completa.
Antes da recomendação da DGS ter sido anunciada na terça-feira, o Presidente da República já vinha a pressionar por várias ocasiões as autoridades de saúde nesse sentido e o i sabe que Marcelo Rebelo de Sousa não considerava correto o envio de 3 milhões de doses para o estrangeiro sem estarem asseguradas em primeiro lugar as vacinas para inocular a população mais jovem.
Isto porque, além da intervenção feita através do mecanismo europeu de partilha de vacinas e da Covax, no seu apoio bilateral direto Portugal comprometeu-se a expedir inicialmente 1 milhão de doses para os PALOP_e Timor-Leste, tendo este número sido atualizado para o triplo, depois de o primeiro-ministro ter lembrado a 17 de julho, na conferência de imprensa final após o encerramento da XIII Cimeira de Chefes de Estado e de Governo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), que embora o país tinha assumido oferecer 5% do total de vacinas, segundo as contas feitas podia prescindir de 3 milhões de doses.
Além disso, Portugal dispõe ainda de mais um milhão que tenciona afetar a outros programas. “Poderemos alargar ao Brasil, aos países da América Latina ou poderemos simplesmente integrar o mecanismo Covax, sem nenhum destinatário específico”, tinha anunciado o primeiro-ministro.
Das quase 200 mil doses já disponibilizadas no âmbito da primeira fase do Plano de Ação, 50 mil foram para Angola a 15 de julho, 48 mil para Cabo Verde (das quais 24 mil doses enviadas a 14 de maio, e outras 24 mil doses enviadas a 16 de julho), 24 mil para a Guiné-Bissau a 13 de julho, 50 mil para Moçambique a 5 de julho e, ainda, para São Tomé e Príncipe e Timor-Leste, 12 mil vacinas cada, a 10 e 19 de julho, respetivamente.
A imunidade de grupo
O vice-almirante Gouveia e Melo falou novamente na imunidade de grupo na quarta-feira apontando para a necessidade de ter 80/85% da população vacinada. “Nós temos vacinas, fizemos um processo de negociação difícil com a Europa para este conjunto final de vacinas”, disse, elogiando o trabalho da Direção Geral da Saúde e do Ministério da Saúde. “Só falta um último esforço: a população portuguesa vir à vacinação”.“Não podemos dar férias ao vírus”, rematou.
Também a Organização Mundial da Saúde (OMS) advertiu esta quarta-feira que não existe um “número mágico” para a imunidade de grupo na covid-19, porque à medida que surgem variantes do vírus mais contagiosas mais pessoas têm de ser vacinadas.
* Texto editado por José Cabrita Saraiva