por Joana Mourão Carvalho
O termo tem sido muito discutido entre cientistas e investigadores. Mas afinal o que é a imunidade grupo? Com uma simples pesquisa na internet ficamos a saber que esta é uma forma de proteção indireta contra doenças infeciosas, que pode ocorrer quando uma percentagem suficiente da população se torna imune a uma infeção, seja de forma natural (por infeção) ou artificial (através de vacinas), reduzindo assim a probabilidade de infecção para indivíduos ainda sem imunidade. A mesma definição é confirmada pelo virologista Pedro Simas. «É um efeito de proteção indireta, por parte das pessoas que têm imunidade em relação aos outros, de contraírem uma infeção», explica ao Nascer do SOL.
Tendo em atenção este conceito, a grande questão que se coloca é: será possível atingir a imunidade de grupo relativamente ao novo coronavírus?
A resposta para já não é consensual e, ao longo da semana, várias considerações foram tecidas em torno desta questão. Andrew Pollard, Diretor do Centro de Vacinação da Universidade de Oxford, acredita que esta é uma ideia «mítica» e que «não é possível alcançar a imunidade de grupo com a variante delta». O criador da vacina da AstraZeneca referiu na quarta-feira que «não há nada que pare completamente a transmissão» do vírus.
A confusão parece ser mesmo essa, diz Pedro Simas. «Nós sabemos que se tivermos taxas de vacinação de 95% da população os vírus deixam de circular só que isso não vai acontecer com o coronavírus. O que os cientistas querem dizer com imunidade de grupo é que o vírus vai deixar de circular. Quando dizem que não vai haver uma imunidade de grupo, penso que se referem a uma imunidade que leve à erradicação do vírus».
Contudo, segundo o investigador, é praticamente impossível impedir que o vírus circule, uma vez que «as vacinas que existem e a própria infeção natural causam uma resposta tão heterogénea nas pessoas que permite ao novo coronavírus ter sempre uma percentagem da população que consegue infetar, mesmo até que já tenha sido imunizada».
A esta problemática acresce ainda o aparecimento da variante delta, que se dissemina de forma mais rápida do que as outras variantes conhecidas até agora, como a d614g e a alpha. No caso português, «como apareceu numa fase avançada da vacinação, conseguimos controlar a situação mais rapidamente do que outros países, nomeadamente da Ásia, que têm taxas de vacinação muito baixas», detalha Simas.
Apesar disto complicar o caminho para se alcançar a tal imunidade de grupo , esta «não deixa de existir», salienta, retomando a ideia de que esta serve para alcançar um «equilíbrio endémico», isto é, «há um efeito de proteção e de imunidade que não interrompe a circulação do vírus, mas que é suficiente para proteger a população de um risco de saúde pública». Neste caso o que acontece é que o vírus deixa de ser pandémico: «Passa de uma propagação exponencial para uma propagação sazonal», acrescenta.
No entender de Pedro Simas, a imunidade de grupo em relação à covid-19 já foi atingida nos grupos de risco, «pois já conseguimos criar uma imunidade de proteção contra a doença severa muito eficiente».
Neste momento, já 72% da população portuguesa (7.344.550 de pessoas) tem uma dose da vacina e 62% (6.403.987 de pessoas) tem a vacinação completa. Sendo que a primeira vacinação confere uma imunidade protetora da doença severa e contra as mortes por covid-19 e a vacinação completa faz reduzir o número de infeções na população não vacinada, o virologista considera que Portugal é um dos melhores países do mundo em termos de taxa de vacinação. «Estamos já numa fase pré-endémica, ou seja, numa fase terminal da pandemia, isto porque já não há uma disseminação exponencial do vírus e a taxa de infeção está muito estável».
Neste sentido, o investigador defende que esta é a altura ideal para desconfinar e ter uma perceção mais clara da efetividade da vacina na taxa de infeção.