Pressão nos ‘arrependidos’

O que deve acontecer é a maioria silenciosa fazer uma opção que não seja nem Bolsonaro nem Lula. Ambos perderam a confiança da população de bom senso. Ficaram com seus radicais.

Por Aristóteles Drummond

No conturbado momento político vivido pelo Brasil, em função do comportamento inusual do Presidente, fica cada vez mais evidente que o conflito do Jair Bolsonaro com o Poder Judiciário, já na troca de agressões verbais de lado a lado, tem um objetivo político. A rutura do diálogo é um fato. A seguir, no caso de o Congresso não alterar o sistema eleitoral, substituindo as atuais máquinas por outras que emitiriam um voto em papel para eventual auditoria, o conflito vai se deslocar para o Legislativo. Com a mídia, o antagonismo é uma realidade irreversível.

Com a decepção de muitos que votaram no Presidente, de parceiros e ex-membros do governo, a técnica tem sido a de se acusar os ‘arrependidos’ de um suposto apoio ao presidente Lula. Os defensores de Bolsonaro passaram a responder as críticas com um «então vota no Lula». Querem repetir, no ano que vem, o ocorrido em 2018, quando boa parte dos 57 milhões que elegeram o presidente, na verdade, estava votando contra o PT e as esquerdas. Mas o que deve acontecer é a maioria silenciosa fazer uma opção que não seja nem Bolsonaro nem Lula. Ambos perderam a confiança da população de bom senso. Ficaram com seus radicais.

Ocorre que o desgaste do presidente, de fácil perceção nas sondagens, na medida em que se aproxima a eleição que vai renovar funções no Executivo e no Legislativo, vai esvaziando o poder do governo. A tradição histórica é político querer estar no trem da vitória e desembarcar do navio que afunda. E as reações serão imprevisíveis de personagem tão imprevisível.
 
A crise deve se agravar até o final do ano, mesmo com eventual recuperação da economia, que, a essa altura, não parece ser suficiente para anular as consequências de tantos conflitos. E o controle das contas está cada vez mais difícil com os gastos em programas sociais de cunho eleitoreiro, promovidos pelo próprio Presidente. A economia não deve ter fôlego para chegar a outubro de 1922, segundo analistas do mercado financeiro. As próximas semanas prometem.
 
Variedades

• O secretário de Saúde da Bahia, Fábio Vilas-Boas, deixou o cargo depois da divulgação de agressões verbais à dona de um restaurante na turística Ilha dos Frades. O secretário estava no cargo há seis anos e o uso de termos inadequados circulou na Internet. E o vice-governador do Mato Grosso, Otaviano Pivetta, está respondendo por agressão à mulher. Mas, depois de ela apresentar queixa à Polícia e a perícia comprovar lesões, o casal diz que foi apenas uma discussão.
• Menos de mil óbitos na média diária com o avanço da vacinação. Mas a relação de doses aplicadas por cem habitantes ainda está longe dos países que mais vacinaram. Tendo vacinas disponíveis, setembro deve marcar a volta à normalidade. E a CPI do Senado perde força ao alongar a apuração do que já está consolidado. Apenas serve para alimentar a crise política.
• O Brasil é o segundo importador de azeite do mundo, com 80 mil toneladas por ano. Mais da metade de Portugal. Agora tem uma pequena produção nacional, de qualidade, com apenas 200 toneladas anuais. Mas, nos próximos cinco anos, quer ter dez vezes mais. As mudas foram importadas da Itália, Grécia e Espanha.
• Rumores cada vez mais fortes de uma briga no testamento do banqueiro Joseph Safra, brasileiro de origem libanesa, que, ao morrer em 2019, tinha uma fortuna avaliada em 16 bilhões de dólares. Deixou viúva e três filhos, e um dos quais, Alberto, se considera prejudicado. O Banco Safra é um dos cinco maiores do Brasil.
• A venda dos Correios anda no Congresso. Mas com inclusões que podem desestimular candidatos. Estabilidade e indenização preestabelecida para os que venham a ser demitidos entre os 90 mil empregados. E restrições a fechamento de postos deficitários. As agências poderiam ser substituídas por agentes, como ocorre em muitos países. 
• As licitações de estradas, portos e aeroportos podem trazer investimentos de mais de quatro bilhões de euros nos próximos anos. Um lado positivo do governo é avançar na venda ou concessão que não precisem passar pelo Congresso.
• Cresce a ocupação dos hotéis no Rio de Janeiro nas últimas semanas. A recuperação de voos internacionais ajuda muito.
• Os filhos de Cid Moreira, que apresentou o Jornal Nacional, da TV Globo, por 26 anos, entraram na Justiça contra a atual mulher dele, Fátima, acusando-a de maus-tratos e desvio de recursos. O casal vive numa propriedade na região serrana do Rio de Janeiro.
• Alegria com as Olimpíadas em que o Brasil teve o melhor resultado desde sempre Ficou em décimo segundo lugar, com 19 medalhas.