Por Judite de Sousa
Estava na RTP e decorria a reunião de alinhamento do jornal das 20 horas. Tínhamos os monitores sintonizados nos três canais generalistas que transmitiam as notícias das 13. Cerca das duas da tarde, os nossos olhares fixaram-se nos ecrãs. O que estávamos a ver, em direto, era do domínio do sobrenatural. Primeiro, o derrube de uma torre, rasgada por um avião. Minutos depois, a queda da segunda torre do World Trade Center nas mesmas circunstâncias. O horror em direto como nunca tínhamos visto.
Quando nessa mesma tarde se soube que se tratava de um ataque terrorista da Al-Queda, preparado na sua origem nos campos de treino do Afeganistão, as atenções do mundo ora se voltaram para Nova Iorque, ora para o Paquistão, de onde iria partir estrategicamente a retaliação dos norte-americanos.
Telefonei ao meu filho e disse-lhe: «André, traz-me o passaporte». Assim aconteceu. Pouco tempo depois estava na embaixada do Paquistão que se situava na Avenida da República. No dia seguinte, embarquei num voo da Pakistan Airlines para Islamabad. Comigo, seguia o meu colega Paulo Dentinho e o repórter de imagem Vítor Dias.
Nos dois primeiros dias, trabalhamos a partir do hotel Marriott. Fazíamos os diretos no telhado onde estavam montados os dispositivos técnicos das agências internacionais, a par das grandes estações de televisão que operam a nível da informação global. Decidimos avançar mais para o terreno. O Paulo Dentinho deslocou-se para Norte, para a cidade de Peshawar, na fronteira com o Afeganistão, e eu rumei para sul para a cidade de Queta que faz fronteira com a capital religiosa afegã: Kandahar, berço dos talibãs. Foi uma experiência profissional intensa num terreno hostil onde tudo o que simbolizava o Ocidente era violentamente atacado.
Quase um mês depois, os Estados Unidos e a coligação internacional atacaram e a partir daí a história é mais ou menos conhecida. Bin Laden viria a ser executado e as forças ocidentais instalaram-se em Cabul. Permaneceram vinte anos e falharam no seu principal objetivo de paz. Agora, há muitas perguntas e escassas respostas. Mas há lugar ao medo. Apesar de nos últimos dias, os talibãs terem mostrado ter ‘spin doctors’, poucos acreditarão que um estado islâmico possa trazer segurança e respeito pelos direitos humanos, a começar pelos das mulheres. Quanto a uma nova era de terror, a ameaça existe.