Por Nélson Mateus e Alice Vieira
Querida avó,
Espero que a tua longa estadia por terras jagozas esteja a correr da melhor maneira.
A Ericeira tem sempre muitos encantos ao longo do ano. Mas este agosto, em particular, ainda teve um encanto maior.
A Exposição Retratos Contados de Alice Vieira tem sido um sucesso.
Mas sobre a Exposição falamos noutro dia. Hoje apetece-me falar de um livro que sai na próxima semana. Diário de uma avó e de um neto confinados em casa. Diz-te alguma coisa?
Não imaginas a minha felicidade por o nosso Diário chegar agora aos leitores, em forma de livro.
Aquilo que começámos por uma ‘brincadeira’, para nos mantermos ocupados durante o confinamento, tornou-se numa coisa ‘muito séria’ e que vai muito além do confinamento.
Não imaginas a quantidade de emails e mensagens que recebo diariamente a pedirem informações sobre o livro.
Um livro que leva os leitores a fazerem uma viagem às Memórias de Portugal. Que bom tem sido partilhar tudo isto com os nossos seguidores. A visão da ‘avó’ e do ‘neto’ em relação a tantos assuntos.
No outro dia perguntavam-me: ‘É um livro para velhos?’. Eu respondi: ‘Claro que sim. Mas para os velhos lerem com os mais novos!’.
É um livro para toda a família. Aquilo que hoje somos, é o resultado da soma do que foi feito pelas gerações anteriores.
Hoje os telemóveis dão para tudo, inclusive para fazer chamadas. Mas não nos podemos esquecer que há uns anos a maior parte das famílias nem sequer tinha telefone fixo em casa. Não existia democracia. Só tínhamos dois canais de televisão (a preto e branco)…
Quem quiser saber mais é comprar o livro!
Não podemos deixar de agradecer ao Nascer do Sol por estar ao lado da ‘avó’ e do ‘neto’ desde o primeiro momento.
Toda a gente adora ter livros autografados. O que te parece se autografarmos livros que serão enviados para casa dos leitores?
É só enviarem-nos um email para info@retratoscontados.pt e eu trato de tudo.
O que te parece?
Bjs
Querido neto,
Já sabes que não gosto de falar daquilo que faço.
Não quer dizer que não me sinta entusiasmada mas, a partir do momento em que um livro é publicado, ele pertence aos leitores.
Mas, apesar disso, queria dizer que este livro não é para velhos. Nem para novos. É para todos os que os lerem, sejam quais forem as suas idades.
Eu nunca penso na idade que tem quem me vai ler. Costumo dizer muitas vezes que sou egoísta porque só penso em mim quando escrevo… Se gosto, tudo bem; se não gosto, nada feito: rasgo tudo e começo do princípio. Já deitei livros inteiros fora. Emendo muito mas se, mesmo assim, releio e acho que sou capaz de fazer melhor – vai tudo para o lixo.
Não emendo – deito tudo fora.
E sempre achei que todos os meus livros podiam ser lidos por jovens e adultos. Quando entrego um livro à minha editora e me perguntam ‘é para jovens ou para adultos?’ respondo sempre ‘leiam e decidam’.
Lembro-me de, há anos, o Público publicar ao fim de semana um livro de um escritor conhecido, metade prosa, metade poesia. Eles é que escolhiam os textos. No meu caso escolheram, de poesia, o Dois Corpos Tombando na Água e de prosa o meu romance Às Dez a Porta Fecha. E muitos amigos meus ligaram-me a dizer ‘não sabia que também escrevias romances para adultos!’. Na minha editora, o Às Dez a Porta Fecha era considerado para adolescentes…
Não há idades para os livros. E quantas vezes os miúdos gostam de livros de que não entendem uma palavra? Um dia fui a uma escola do 1.º ciclo e comecei-lhes a ler uma história minha. A uma dada altura, um dos miúdos levantou o braço e disse ‘Não sei o que quer dizer essa frase!’— e logo todos gritaram ‘Cala-te, a gente também não, mas é muito bonito!’. Porque o som que as palavras têm também é muito importante!
Bom, mas voltando ao nosso livro.
Trata disso de enviar livros autografados aos leitores. Gosto (muito) da ideia.
Bjs