Em 2018 estava a fazer novelas em Portugal, agora, é uma das atrizes mais procuradas na internet. A ascensão e popularidade de Daniela Melchior, uma das protagonistas do mais recente filme de super-heróis da DC Comics, The Suicide Squad, é algo raro entre artistas portugueses, e que a própria espera que se repita com mais compatriotas.
Depois do radialista Nuno Markl ter partilhado uma notícia onde apelidava Melchior de «épica», esta respondeu com:
«É bom, mas passa depressa!», começou por referir, fazendo menção à «colega» Alba Batista, protagonista da série da Netflix, Warrior Nun.
«Ontem era a Alba Baptista, hoje sou eu, brevemente espero que seja mais alguém de Portugal», desejou a atriz portuguesa.
Das novelas à encantadora de ratos
Antes de Daniela chegar aos holofotes de Hollywood, a atriz participou em algumas produções portuguesas, mas sempre com uma presença discreta. A série juvenil Massa Fresca, telenovelas como Ouro Verde e A Herdeira e filmes como Caderno Negro e Parque Mayer, são as participações que surgem associadas junto ao seu nome depois de uma breve pesquisa da internet.
Como é que uma atriz portuguesa consegue então realizar este salto para a ribalta e tornar-se na atriz mais pesquisada do IMDB, base de dados online dedicado ao cinema e à televisão e um dos sites mais pesquisados da internet, liderando ainda o ranking do Star Meter desta plataforma?
Apesar de não ser a sua primeira incursão no mundo dos super-heróis, deu a voz a Gwen Stacy na dobragem portuguesa do filme Spider-Man: Into the Spider-Verse, o filme que abriu as portas de Hollywood a Daniela foi o Parque Mayer, realizado por António-Pedro Vasconcelos, depois de um agente de Hollywood ter visto o trailer do filme e demonstrar interesse nos talentos da atriz.
Foi assim que, no início de 2019, a atriz entrou num avião e dirigiu-se para a entrevista que iria mudar o rumo da sua vida.
Apesar dos pequenos papéis em Portugal conseguirem valer um rendimento sustentável à atriz, graças ao seu papel na novela Mulheres, aos 17 anos, conseguiu comprar os seus primeiros dois carros, contou à Hollywood Reporter, a atriz ambicionava mais.
«Quem me conhece sabe que há alguns anos não estava feliz a trabalhar em Portugal», desabafou nas redes sociais, revelando que, em 2019, comprou «um bilhete de ida para a Tailândia para priorizar a minha saúde mental e física», escreveu no Instagram, acrescentando ainda que o seu casting para The Suicide foi a sua «lotaria».
Uma «lotaria» que podia ter saído furada. O manager de Melchior recomendou à atriz para se apresentar no casting com o realizador James Gunn, responsável também pelos filmes de Guardiões da Galáxia, da rival Marvel, e o produtor Peter Safran, «em grande estilo».
«Vesti um casaco de motoqueira, skinny jeans e maquilhei-me», recordou ao site americano, um estilo que não poderia estar mais longe da personagem que, eventualmente, acabou por desempenhar: Ratcatcher II, personagem criada especificamente para o filme, é uma jovem sem abrigo portuguesa, com o poder de controlar ratos. O Ratcatcher original, no filme desempenhado por Taika Waititi, mais conhecido pelo seu trabalho como realizador (dirigiu filmes como Thor Ragnarok, Jojo Rabbit ou What We Do In The Shadows), é o pai da personagem.
Depois da reunião, produtor e realizador duvidaram que Melchior fosse a pessoa adequada para este papel, mas quando a viram no casting, quando a atriz se transformou nesta «rapariga estranha e assustadora», como a própria descreve a personagem e a sua química com o rato (real) com quem surge no filme, a dupla ficou convertida à atriz.
Mesmo contracenando num filme recheado de nomes estabelecidos e aclamados de Hollywood, como Margot Robbie ou Idris Elba, respetivamente, no papel de Harley Quinn e Bloodsport, a Melchior e a sua personagem foram um dos pontos mais destacados e elogiados pela crítica nacional e internacional, que podem ser resumidos pelo elogio deixado por James Gunn. «Ela é o coração do filme», disse o realizador ao LA Times.
Apesar da atriz ainda não ter novos papeis associados ao seu nome, isso deverá ser uma questão de tempo, aliás, como indica o Hollywood Reporter, trata-se da «the next big thing» do cinema mundial.