Morreu aos 80 anos Aurora de Brito, a comerciante mais antiga do Mercado de Campo de Ourique. Numa entrevista à revista LUZ, em dezembro do ano passado, afirmou que não via um fim para o seu negócio, uma vez que haveriam de a ir buscar “com o caixão aqui à porta do mercado”.
Aurora trabalhava há 68 anos no mercado, sendo “mais conhecida do que a banha da cobra”, como a própria dizia, tendo inclusive sido a cara do mercado nas marchas de 2015.
A acompanhá-la nas doze horas de trabalho diário, durante sete dias semanais estava a filha, Teresa de Brito Ladeiro, “a que gosta mais das frutas”. Os restantes três filhos também davam, no entanto, “uma mãozinha” quando era necessário.
Naquele que era o seu local de trabalho mas também uma segunda casa, a comerciante criou laços para a vida: “Aqui somos todos uma família, tanto os colegas do mercado como as minhas clientes, que, muitas delas, são minhas amigas”, disse na altura a vendedora.
A alegria era o segredo (muito pouco secreto) das Frutas Aurora. Quando a filha lhe dizia para ficar em casa ao fim de semana, a comerciante recusava-se, alegando que era aquilo que lhe fazia que lhe dava força para continuar: “Isto é a minha vida. Eu preciso de falar com as minhas clientes, eu ensino-lhes receitas, tudo o que elas pedem eu faço. Daí eu ter muita gente aqui: trato bem os clientes, é deles que eu vivo, são eles me sustentam, tenho de os tratar bem”.
A gentrificação que afetou diversas cidades europeias, acabou também por trazer mudança ao mercado lisboeta. Em 2013, o mercado foi renovado e dele passaram a fazer parte, além das bancas de fruta, legumes e peixe, também restaurantes e cafés.
Um desses restaurantes escolheu, como forma de homenagear que já lá estava, dar o nome dos comerciantes aos hambúrgueres que venderiam. “Aurora” é picante, fazendo alusão às piadas que a vendedora contava.
Aurora de Brito afirmou à Luz desejar que “quando já cá não” estivesse, os filhos e os netos tomassem conta do negócio e que o mesmo durasse “muitos mais anos”.