No dia em que o Brasil comemora mais um feriado do Dia da Independência, o Presidente, Jair Bolsonaro, ameaçou os juízes do Supremo Tribunal Federal (STF) num discurso que ocorreu durante uma manifestação, esta terça-feira, em defesa do seu mandato.
"Não mais aceitaremos que o Supremo [Tribunal Federal] ou qualquer autoridade usando a força do poder passe por cima da nossa Constituição (…) Nós também não podemos continuar aceitando que uma pessoa especifica na região dos três poderes continue barbarizando a nossa população", apontou Bolsonaro, referindo-se ao juiz Alexandre de Moraes, do STF.
"Não podemos aceitar mais prisões políticas no nosso Brasil", afirmou Bolsonaro, ao tocar novamente em Moraes. Este juiz do STF expediu, nas últimas semanas, mandados de prisão contra apoiantes de Bolsonaro envolvidos num inquérito sobre atos antidemocráticos e notícias falsas, tendo investigado o próprio chefe de Estado.
Milhares de pessoas, vestidas a rigor com as cores da bandeira brasileira, juntaram-se numa manifestação em Brasília e gritaram cantos e frases de apoio ao Presidente, que está no cargo desde janeiro de 2019. (Veja na fotogaleria o mar de brasileiros que se uniu no feriado nacional).
Jair Bolsonaro interveio na manifestação, num discurso em que o Presidente disse que o próprio e os seus apoiantes respeitam a Constituição e “não querem uma rutura”.
Contudo, neste ajuntamento, milhares de pessoas levaram cartazes e placas, escritas inclusive em inglês, que pediam medidas como prisão e a destituição de todos os juízes do STF e ainda uma intervenção militar que ajudasse a manter Bolsonaro no poder.
"Todos aqui sem exceção somos aqueles que dirão para onde o Brasil deverá ir. Temos em nossa bandeira escrito "Ordem e Progresso'. É isso que nos queremos, não queremos rutura, não queremos brigar com poder nenhum, mas não podemos admitir que uma pessoa turve a nossa democracia. Não podemos admitir que uma pessoa coloque em risco a nossa liberdade", frisou Bolsonaro.
A manifestação pró-Bolsonaro está a decorrer em várias cidades brasileiras e para o chefe de Estado, isto resulta como um recado da população aos três poderes: é "um comunicado, um ultimato, para todos que estão na Praça dos Três Poderes, inclusive eu, Presidente da República”.
"Enquanto vocês estiverem comigo eu estarei com vocês e não importa quantos obstáculos que, porventura, tenhamos ao longo do nosso caminho", sublinhou.
Esta grande manifestação, marcada para o dia de um dos principais feriados nacionais, foi incentivada por Bolsonaro há quase dois meses devido às fortes tensões entre o Presidente e o STF e o congresso.
Para o chefe de Estado, e parte da extrema-direita, as duas instituições estão a atuar como “partidos de oposição” contra o governo.
Nas últimas semanas, Bolsonaro tem causado turbulências por fazer duras criticas à Justiça, que está a investigar o chefe de Estado por suspeitas de irregularidades no combate à pandemia e por difundir notícias falsas sobre a transparência e fiabilidade do sistema eleitoral brasileiro.
Mesmo assim, a popularidade de Jair Bolsonaro tem estado a cair devido à pandemia, à crise económica que se agravou e às constantes declarações polémicas.