A corrida ao posto de Angela Merkel está a aquecer. O partido da chanceler cessante, a União Democrata-Cristã (CDU, na sigla alemã), de centro-direita, está em muito maus lençóis, com uns meros 21% das intenções de voto, segundo o Politico, ficando atrás dos seus velhos parceiros de coligação do Partido Social-Democrata da Alemanha (SPD, em alemão), de centro-esquerda, que tem 26% nas sondagens.
Num país com o espectro político muito fraturado, estão todos a fazer contas a potenciais coligações, mas a expectativa é que essa margem do SPD se aprofunde ainda mais, tendo o seu candidato, Olaf Scholz, sido dado como vencedor do debate televisivo deste domingo, frente a Armin Laschet, da CDU, um dirigente muito próximo de Merkel, mas que parece incapaz de repetir o sucesso eleitoral da histórica líder alemã.
A menos de duas semanas das eleições legislativas, Laschet bem que precisava de que o debate – em que participou também Annalena Baerbock, candidata dos Verdes, que conta com 16% das intenções de voto – lhe desse um empurrão. No entanto, o dirigente da CDU acabou como o favorito de apenas 27% dos telespetadores, segundo uma sondagem da Infratest dimap para o canal ARD, batendo os 25% de aprovação de Baerbock, enquanto Scholz agradava a 41% das audiências.
Sem grandes reservas, Laschet partiu de imediato para a ofensiva, acusando Scholz, um ministro das Finanças pertencente a um partido que esteve 12 dos últimos 16 anos no Governo com a CDU, de pretender mudar as regras do jogo, juntando-se aos Verdes e ao Die Linke (A Esquerda, em alemão), numa espécie de geringonça. Já Scholz não mordeu o isco, recusando responder mesmo quando desafiado pela moderadora, deixando as suas opções em aberto – anteriormente, o candidato do SPD assegurara que qualquer coligação teria como condições mínimas coisas como a manutenção da Alemanha na NATO, que o Die Linke rejeita.
O problema de Laschet é que essa linha de ataque abriu-lhe o flanco ao ser acusado por Scholz de abrigar elementos com um discurso muito próximo da Alternativa para a Alemanha (AfD), como Hans-Georg Maassen, candidato pela CDU na Turíngia e antigo chefe das secretas, afastado do posto em 2018, por suspeita de simpatia com a extrema-direita e de partilhar informação sensível com membros da AfD, segundo a DW.
Laschet, da ala centrista da CDU, até se viu obrigado a esquivar-se à pergunta de se votaria em Maassen se fosse um eleitor da Turíngia. “Há muitas diferenças entre mim e o sr. Maassen, e ele terá de seguir o rumo que eu traçar enquanto líder do partido”, respondeu.
Clima Assumindo que a quebra do bloco central se mantém, qualquer potencial coligação, à direita ou à esquerda, deverá ter de contar com os Verdes. Esta força em ascensão chegou a ser o partido com mais intenções de voto, com 25% nas sondagens do Politico, em maio, face aos 24% da CDU, mas caiu a pique nos últimos meses.
Como esperado, as críticas mais duras da candidata do partido, Baerbock, centraram-se no combate às alterações climáticas, garantindo que um Governo liderado pela CDU ou pelo SPD seria mais do mesmo, pedindo uma meta mais ambiciosa para acabar com a energia a carvão que a atual, 2038.
“Não podemos continuar como se nada estivesse a acontecer nos próximos 17 anos”, declarou Baerbock. Trata-se de um tema ainda mais relevante na Alemanha, após as cheias de julho, que devastaram o oeste do país.
É daí que data o declínio eleitoral de Laschet, chefe de Executivo da Renânia do Norte-Vestfália, um dos estados mais afetados, cuja resposta foi muito criticada. Sobretudo após ser filmado a rir-se enquanto o Presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier, fazia um discurso sobre a perda de vidas na tragédia, numa visita à região.