Por Joaquim Silva Pinto – Gestor
siva parte de quadros superiores da Administração Pública. Finalmente, a comparação do nível de qualificação nos elencos autárquico, parlamentar e governativo com o cúmulo da atual melodramática equipa de António Costa.
Seria que o atual primeiro-ministro, na sua habitual estreiteza de raciocino, não pensou que esse programa plurianual acarretaria obrigatoriamente a reflexão a substituir festividades e debate? Facultou uma fonte de inspiração para avaliações contundentes, designadamente por parte do partido radical de direita, que se consentirá, no calor da discussão, margens de exagero subjetivo. Mas, mesmo muitos analistas de feição moderada não esconderão a preferência pelo 25 de novembro e Ramalho Eanes, o enfrentamento de Soares na alameda Afonso Henriques com os radicais de esquerda, o desassombro de Zenha contra a unicidade sindical, o papel construtivo de Sá Carneiro e Amaro da Costa, apesar do erro do anti-Eanismo.
Virão a lume demolidoras críticas a Cunhal como homem de confiança de Brejnev, Vasco Gonçalves e Rosa Coutinho no desvario revolucionário, o intrigante papel de Melo Antunes, Pinheiro de Azevedo e Vasco Lourenço aparentemente tão só apreensivos com os exageros de outros, designadamente o impulsivo Otelo Saraiva de Carvalho, mero coordenador tático nas operações militares do dia, depois guindado a herói nacional. Sobressair-se -á o papel de Costa Gomes como o verdadeiro estratega da Revolução, que talvez tivesse preferido com o perfil de golpe de Estado. Não chegou Otelo a garantir a Salgueiro Maia que podia avançar de Santarém praticamente sem munições, porque «o nosso General Costa Gomes tem tudo controlado»?
A violência das recentes apreciações sobre o falecido Otelo, ainda quente o cadáver, aponta para o clima que se irá desenvolvendo com natural realce para o Chega, onde pressinto estejam os herdeiro dos reacionários, que viam em Marcello Caetano e seus próximos, entre os quais me incluí convictamente, a causa do enfraquecimento da ordem, quando na nossa opinião era a barreira reacionária que impedia uma solução gradual e pacifica. Obviamente, que havia a guerra no Ultramar e as dificuldades em apressar a solução política dessa magna questão, o temor pelo futuro das gerações de raiz lusíada nos territórios africanos, a conceção das sociedades multirraciais sem clivagem étnica.
Vontade não me falta para aconselhar a sair deste imbróglio o inteligente neto do meu velho amigo Adão e Silva, com quem constitui o World Center Portugal beneficiando dos seus contactos internacionais, o que me fez passar do mundo das PME’s para sucessivamente as ambiciosas perspetivas da Nokia, depois da 3M, sem esquecer a Brisa e a internacionalização da Mota Engil como grupo pluridimensional. Vai-se queimar o Adão e Silva de hoje em lume brando ainda com Costa, logo a seguir para as chamas a ganharem maior dimensão. Terá sido a malfadada tentação do prato das lentilhas de Esaú ou uma rasteira contra a opção ideológica, que a família nunca escondeu ter como obediência?
A realidade do partido político, ora Chega ora Basta, vai muito para além da mera iniciativa de um ousado promotor chamado André Ventura. Dispõe de meios financeiros, apoios internacionais, presenças ativas ou latentes em fontes de financiamento, universidades e meios de comunicação social. Conheço a força da direita radical. Antes e depois de Abril de 74, senti-lhe os efeitos, o que aliás, verdade seja dita, só me estimulou na política, associativismo e empresas. Conservo cicatrizes, não esqueço caneladas. Aconselho a quem se lhe queira opor a resiliência de seguir em frente sem hostilizar com idêntica rudeza, mas não alimentando ilusões de a adocicar. Será sempre um jogo de soma nula para quem prefira o diálogo construtivo e a participação alargada. Ou se ganha, ou se perde. Somente o posicionamento, progressista em objetivos e controlado em atitudes, da social-democracia de ontem e ultrapassada esta pela globalização, do liberalismo sustentado serve para travar eficazmente a direita violenta pondo a democracia a recato. A luta entre extremos a ambos acicata.
Daí a importância, como previa, do que se irá passar no PSD, seja qual for o resultado das eleições autárquicas, pois a campanha só confirmará, em qualquer caso, a intolerável debilidade da direção do desmotivador Rui Rio, que se confinou numa melancólica parceria com uma dúzia de fiéis, onde se destaca pela qualidade o meu antigo cordial coincidente na Câmara Municipal de Oeiras, David Justino a deixar-se morrer com o defunto. Outro que eu desejaria tirar a tempo da fogueira.
No próximo artigo desafiarei o leitor a fixarmo-nos nas condições, por mim tidas como essenciais, para o novo presidente do PSD como líder do vasto universo do liberalismo sustentado, só possível com significativa expressão eleitoral a partir daquele partido. Contudo, bem pode ocorrer, que chegados a acordo sobre o perfil, eu configure alguém entre os possíveis concorrentes, fixando-se o leitor noutro. Mas já será um progresso excluir hipóteses irrealistas. Do contexto desse prélio, retiro com pesar Pedro Passos Coelho, consciente do seu firme propósito de não obstaculizar a chegada de um elemento com a frescura da novidade. Recusa-se por isso a correr para ganhar demonstrando, uma vez mais, um exemplar sentido de Estado. O país deve-lhe a palavra de elogio e reconhecimento, que Rio lastimavelmente esqueceu como outro dado negativo do seu inglório percurso.
Uma coisa é certa: assim como no PS faltam nomes para primeira figura, sobejam no PSD, sem esquecer as franjas tendencialmente complementares, seja do lado da Iniciativa, fiel a uma conceção de liberalismo tradicional, seja no reduto da meia esquerda liberal, a evocar o núcleo dos Reformadores de António Barreto, quando aliado eleitoralmente a Sá Carneiro. Frequentemente me pergunto se distanciados do PS radical, vizinho promíscuo do BE, não se sentiriam mais felizes politicamente em conjugação com o liberalismo sustentado, personalidades como António Seguro, Francisco Assis, Mário Centeno ou Siza Vieira. Só que os curricula vão se desenhando muitas vezes mais por oportunidade do que por lógica. A coerência atenua-se pela circunstância.