Várias vezes, ao longo da nossa vida, somos confrontados com várias perguntas: vale a pena votar? Vale mesmo a pena colocar uma cruz num papel para escolher um executivo local, um Presidente, um Governo? E os cristãos, devem mesmo participar da vida pública e política deste mundo?
No julgamento de Jesus que vem relatado nos evangelhos, fizeram a Jesus a seguinte pergunta: «Tu és rei?». Jesus respondeu: «O meu reino não é deste mundo!». «Então, disseram-lhe, tu és rei?». E Ele respondeu: «Para isso nasci e vim ao mundo, a fim de dar testemunho da verdade!». E sobre a cabeça de Jesus colocaram a causa da sua condenação: Jesus Nazareno, Rei dos Judeus.
Este texto tem-me orientado muitas vezes quando participo da vida da polis, da vida da cidade, e da vida política. Nunca fui político. Nunca pretendi ser político. Não quero ser. No entanto, todos somos políticos, na medida em que participamos da vida da polis, da cidade.
A política não é a ação de um partido ou de um conjunto de pessoas que se organizam de forma política à volta de uma causa. A política é responsabilidade de todos os homens e mulheres de cada tempo e, por isso, fazer uma cruz num papel, no dia das eleições, é fazer uma escolha e, portanto, é um ato político.
Não pretendo fugir à questão inicialmente apresentada: devem os cristãos participar da vida pública e da vida política neste mundo? Deve o ato eleitoral fazer parte da vida de cada cristão? A resposta é simples: sim!
Sabemos que o reino de Jesus não é deste mundo, mas sabemos, também, que a sua ação é feita neste mundo. O mistério da encarnação, isto é, o mistério de um Deus que entra na história humana é, sem dúvida, um ato político por excelência, dado que Deus não fica no céu a olhar para o homem, mas vem salvá-lo. Assim, Deus pela encarnação faz uma ação, entra na história humana e salva o homem.
Cristo, na sua oração sacerdotal, no Getsemani, antes de se entregar faz uma oração pelos discípulos e por todos os que, no futuro, haviam de crer nele: «Não te peço que os tires do mundo, mas que o livres do maligno».
Esta é a realidade de todos os cristãos, vivemos no mundo, sem sermos do mundo. O problema da Igreja e dos cristãos é quando se querem assemelhar ao mundo e a viver como vive o homem do mundo. Enquanto vivemos no mundo, sabemos que não somos daqui, porque temos no céu uma pátria. O passaporte já nos foi oferecido no batismo, por isso, aqui somos uma espécie de estrangeiros, diz São Paulo. Vivemos aqui, mas sabemos que não somos daqui e que a nossa pátria está no céu.
Isso, no entanto, não nos deve demitir da responsabilidade de viver neste mundo e de tornar este mundo mais habitável, conforme à salvação operada por Cristo. Se fomos salvos, se fomos redimidos por Cristo, sabemos que a sua ação se perpetua na vida da Igreja e, portanto, na vida dos cristãos. A missão de Cristo no mundo contemporâneo prolonga-se na vida dos cristãos e na vida da Igreja.
Por isso, cada ação de Cristo é uma ação libertadora. Cristo, em cada gesto, procura a salvação do homem daquela escravidão e daquele inferno em que o homem se vê atormentado. Desta forma, hoje, os cristãos, ao exercerem a sua ação política, de um gesto tão simples como aquele que iremos fazer no próximo domingo, têm o grave dever de se colocarem diante de Deus e de saber como poderão, pela sua ação, libertar os homens da escravidão.
Na realidade, os cristãos dão continuidade à missão messiânica de Cristo, libertando os homens das suas cegueiras e surdezes, das suas paralisias e influências malignas. Hoje, e na próxima semana, quando formos colocar a dita cruzinha, só poderemos pensar na forma mais libertadora de elevar o homem na sua dignidade original. Porque o ato político é, também ele, um exercício de princípio de salvação do homem.