Europa com três vulcões em simultâneo

Enquanto a tragédia de La Palma obriga mais gente a fugir, temendo-se gases tóxicos, o Etna despertou e o Fagradalsfjall maravilha turistas.

Enquanto do vulcão da ilha de La Palma, o Cumbre Vieja, espalha devastação à sua volta, numa tragédia que obrigou à retirada de mais de seis mil habitantes das suas casas, destruindo mais de 160 habitações, do outro lado da Europa a Islândia também assiste à sua própria erupção. O monte Fagradalsfjall, perto de Reiquiavique, expele lentamente lava de uma fissura há seis meses, tornando-se a mais longa erupção na Islândia desde há meio século – o fenómeno até já virou atração turística. Já em Itália, o Etna voltou a despertar, um mês depois da sua última erupção, estremecendo com sucessivos sismos, esta terça-feira de madrugada, lançando fumo, emitindo cinzas e um fluxo de lava. Teme-se que seja prenúncio de mais atividade vulcânica.

Para os sicilianos que vivem em Taormina e nos arredores do Etna, por mais habituados que estejam às suas erupções, olhar para o pânico em La Palma certamente não será agradável.

Os receios nesta ilha das Canárias têm aumentado à medida que a lava começa a aproximar-se do mar, dado que uma mistura com o sal pode criar uma nuvem tóxica de grandes dimensões. O problema é que se crie uma coluna de vapor de água com ácido clorídrico, cheia de pequenos cristais vulcânicos, que pode irritar a pele, os olhos e as vias respiratórias.

Aliás, esse temor é tão justificado que a proteção civil espanhola se prepara para reforçar o seu contingente na região quando isso ocorrer, porque “poderá haver explosões e emissão de gases nocivos”, avançou o El País.

Entretanto, o aparecimento de mais uma boca de saída de lava, a cerca de 900 metros da principal, obrigou a mais evacuações, numa ilha com 85 mil habitantes. Prevê-se que a erupção do Cumbre Vieja ainda possa decorrer mais umas semanas, mas só o tempo dirá qual a extensão dos estragos.

Tudo vai depender de fatores muito difíceis de prever, como se a erupção do Cumbre Vieja tomará características mais explosivas, levando à projeção de piroclastos (fragmentos de rocha sólida) a grandes distâncias, se há risco de deslizamentos de encostas, quão viscosa é a lava – quanto mais for, menos distância percorre – ou se são emitidos gases perigosos

 

A erupção perfeita

Já na Islândia, o vulcanismo não só não provoca grande destruição e pânico, mas até uma sensação de maravilha. Chega a prever-se que a erupção do monte Fagradalsfjall possa trazer uns 300 mil visitantes a uma ilha que, como a maioria do resto do planeta, viu as suas receitas do turismo em quebra nos últimos anos, devido à pandemia de covid-19.

A diferença em relação à erupção do Cumbre Vieja, nas Canárias, é que o fluxo de lava do Fagradalsfjall não encontra quaisquer habitações e localidades pela frente, além de ser bastante mais previsível e constante. As fotos mostram até visitantes a fazer grelhados, com vista para um belíssimo e escaldante laranja, que brilha com uma cor impressionante à noite.

“É a erupção turística perfeita”, assegurou Thorvaldur Thordarson, professor de Vulcanologia na Universidade da Islândia, à Sky News. “Garantindo que, contudo, não te chegas demasiado perto”.

Aliás, mesmo na tragédia de La Palma, com tantos a tentar perceber quem pagará as suas casas destruídas – a maior parte das seguradoras não cobre atos de força maior, ou seja, imprevisíveis ou inevitáveis, tendo de recorrer ao Estado espanhol – e outros a fugir, há quem já tente ver a beleza da coisa.

A erupção “provoca um sentimento agridoce”, considerou Jonas Pérez, guia turístico em La Palma há mais de doze anos, à Olive Press. “É devastador ver lava a comer terrenos e propriedades enquanto se move lentamente para o mar”, continuou. “Mas à noite, quando lava vermelha e quente está a ser lançada a 30 ou 40 metros no céu, e a paisagem brilha com um vermelho profundo, é o espetáculo mais incrível que alguma vez poderás ver”.