A crise foge ao controle

por Aristóteles Drummond Os juros de referência passam dos 6%, mas o mercado já pratica taxas muito maiores. Os grandes bancos oferecem agora a taxa referencial mais o índice da inflação, o que pode fazer chegar o rendimento a 16% em 12 meses. As dificuldades para fechar as contas públicas sem ultrapassar o orçamento do…

por Aristóteles Drummond

Os juros de referência passam dos 6%, mas o mercado já pratica taxas muito maiores. Os grandes bancos oferecem agora a taxa referencial mais o índice da inflação, o que pode fazer chegar o rendimento a 16% em 12 meses. As dificuldades para fechar as contas públicas sem ultrapassar o orçamento do Estado, e incorrer em crime de responsabilidade, são cada vez maiores. Seria o caso de uma trégua de, pelo menos, até o final do ano nas disputas políticas e da aprovação de medidas atrativas ao investimento privado e à poupança interna.

Mas a radicalização prospera, com exageros acusatórios, de um lado, e comportamentais, de outro. O setor privado, que vinha ignorando a crise, com base na estabilidade na economia e certa paz nas relações laborais, sem greves e invasões de propriedades, começa a segurar novos investimentos diante do agravamento da economia e os riscos políticos naturais numa eventual volta das esquerdas ao governo.

Lula e Bolsonaro jogam na disputa entre os dois no próximo ano, mas a metade do eleitorado não deseja votar em nenhum dos dois. O problema é encontrar o nome de consenso para chegar nos 30 pontos que garantem a presença na segunda volta.

A CPI do Senado vai apresentar parecer duro contra o Presidente, mas antes vai ouvir o filho mais novo do Presidente sobre suas relações com o autor de uma proposta para fornecimento de vacina chinesa a valores acima de mercado. A tensão volta a subir

 

VARIEDADES

• Aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para financiar projeto social preocupa empresários. O governo havia prometido não aumentar a carga fiscal, que já é grande. Justo quando a indústria começa a investir para substituir importações de componentes em falta no mercado. Ministro Paulo Guedes perde a confiança do setor empresarial e continua sob fogo dos que defendem o afrouxamento no que resta de austeridade orçamentária.

• O deputado Van Hattem, jovem revelação como defensor do liberalismo económico, deve deixar o Partido Novo, pelo qual foi eleito, e retornar aos Progressistas. O líder do Novo, João Amoedo, defende um alinhamento com as esquerdas contra o governo, e a bancada não concorda. Dos oito deputados da bancada, pelo menos, mais quatro devem acompanhar o deputado gaúcho.

• O Edifício Copan, emblemático projeto de Oscar Niemeyer no centro de São Paulo, deve entrar em restauro considerando seu avançado estado de degradação por falta de manutenção. O edifício tem 120 mil metros quadrados de construção, abriga cerca de cinco mil moradores espalhados em suas 1.160 habitações e 70 estabelecimentos comerciais, em 35 andares.

• O presidente Bolsonaro foi a Nova York falar na abertura da sessão anual da ONU, provocando polémicas lá e no Brasil. Não ouviu os conselhos para evitar maior exposição quando enfrenta problemas políticos e económicos no Brasil.

• Secura do ar em Brasília atinge níveis semelhantes ao deserto do Saara, abaixo de 15%. Problemas de desidratação infantil são registrados.

• O governador de São Paulo, João Doria, apesar de figurar mal nas sondagens eleitorais, pode vencer as primárias de seu partido e obter a candidatura. Mesmo em São Paulo, não aparece bem na preferência popular.

• Polémica no Rio de Janeiro em torno da entrega do Aeroporto Santos Dumont, no centro da cidade, à gestão privada. Como o aeroporto internacional, Galeão, que tem o nome de António Carlos Jobim, anda subaproveitado, querem limitar o central à ligação com São Paulo e voos privados. Hoje, operam com a pandemia apenas TAP, Air France e KLM. Mas o governo local já baixou o imposto sobre combustível e a retomada da normalidade naturalmente vai provocar o retorno das demais empresas internacionais. O Santos Dumont está entre os mais movimentados do Brasil justamente por ficar no centro da cidade, o que é um facilitador no mundo dos negócios. Querem cobrir um santo descobrindo o outro.

• Bombardeio de denúncias contra o governo cresce a cada dia. Desta vez, o ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, é acusado de construir, com recursos públicos sob sua gestão, um mirante turístico nas imediações de um empreendimento imobiliário de sua família, em Natal.

Rio de Janeiro, setembro de 2021