Após a ida às urnas deste domingo, os bastidores de Berlim estão em alvoroço, com quatro partidos em jogo, tentando tomar o posto de Angela Merkel. Ao contrário de países como Portugal, onde o chefe de Estado encarrega o líder de um partido, normalmente o mais votado, de tentar formar Governo, na Alemanha isso só acontece depois das chamadas negociações exploratórias, onde todos os partidos participam, sem qualquer tempo limite para tal – estima-se que a chanceler possa acabar a gerir o país mais uns bons meses, até que um sucessor avance para a liderança.
Logo na segunda-feira, os principais partidos dedicaram-se a reuniões internas. Mas à partida, já se sabia que o candidato do Partido Social-Democrata da Alemanha (SPD, na sigla alemã), Olaf Scholz, quer capitalizar a curta margem de dez deputados e menos de 2% dos votos que obteve face aos seus rivais da União Democrata-Cristã (CDU), para montar uma coligação com Os Verdes, que obtiveram 14,8% dos votos e 118 deputados, mais o Partido Democrático Liberal (FDP), que conseguiu 11,5% e 92 lugares no Bundestag. o Parlamento alemão.
Já Armin Laschet, líder da CDU, que conduziu o partido de Merkel ao pior resultado da sua história, com 24,1% dos votos e 196 deputados, uma descida de 8,9% e de 50 assentos parlamentares em relação a 2017, passou essas primeiras reuniões internas a enfrentar duras críticas dos barões conservadores, avançou o Süddeutsche Zeitung. Talvez Laschet nem sequer tenha oportunidade de tentar montar uma coligação e chegar a chanceler, dado que já se fala em pedidos de demissão.
A questão é que os principais rivais internos de Laschet, que lhe fizeram a vida negra na disputa pela liderança da CDU, não estão estão em estado de graça. O seu principal rival, Markus Söder, lider da União Social-Cristã na Baviera (CSU), irmão da CDU, apontando por analistas como mais carismático que Laschet, viu o seu partido regional aguentar-se melhor que a CDU, mas também sofreu quebras significativas.
Por mais que se debata dentro do SPD ou CDU, o futuro da Alemanha talvez se decida sobretudo entre verdes e liberais. Para já, o partido ecologista deixou claro que pretende tentar primeiro coligar-se com o SPD, enquanto os liberais irão enviar a sua primeira delegação exploratória aos verdes, não aos dois grandes partidos que sempre dominaram a Alemanha.
No entanto, já começam a surgir problemas. É que os verdes querem colocar o seu co-líder Robert Habeck como ministro das Finanças – a candidata do partido, Annalena Baerbock, caiu em desgraça por uma série de escândalos durante a campanha – e os liberais querem colocar nesse posto o seu líder, Christian Lindner, avançou o Frankfurter Allgemeine Zeitung.
O problema é que a pasta das Finanças está no cerne da discordância entre estes partidos. “Temos grandes diferenças com os liberais, que querem dar mais dinheiro aos ricos e não querem proteções ambientais”, apontou Franziska Brantner, deputada dos verdes, à DW, no dia em que começavam as negociações.
Mas alguns liberais tentaram pôr água na fervura. “Nós, alemães, pensamos muito sobre custos, mas também pensamos no que custaria não agir”, declarou Lukas Köhler, porta-voz da FDP no Parlamento, ao canal. Sugerindo soluções como o investimento em energias alternativas no crucial setor automóvel alemão como solução de compromisso. “Não está impresso na nossa identidade usar petróleo”, salientou.