Por Nélson Mateus e Alice Vieira
Querida avó,
Depois do sucesso que foi o lançamento do nosso ‘Diário’ em livro, e da inauguração da tua exposição no Casino Estoril, está na hora de voltar a ter tempo para ver notícias.
Estamos em contagem decrescente para as Autárquicas.
É impressão minha, ou não existe um único candidato que tenha falado da Feira Popular? Tema tão recorrente nas eleições anteriores.
Faz 18 (dezoito!!!) anos no próximo mês que a Feira Popular encerrou. Acreditas??? Uma geração inteira sem colecionar memórias das idas à Feira Popular.
Tenho imensas memórias de infância relacionadas com a antiga Feira. As Festas de Natal onde recebíamos sacos cheios de presentes, o Circo, os póneis… Durante a adolescência continuei a frequentar a Feira, — e o que nos divertíamos no Comboio Fantasma, na Montanha Russa… Depois, exaustos, jantávamos o belíssimo frango assado, e ficávamos na janela do restaurante a ver passar as famílias (aparentemente) felizes.
Tudo mudou! Se fosse hoje, (felizmente) na Feira já não existiria o Circo com animais, nem as voltas de póneis…
Mas tu, que tens fotos de infância tiradas na Casa dos Espelhos, deves ter imensas memórias da Feira Popular para partilhar.
Aliás, curiosamente, a primeira Feira Popular de Lisboa abriu em 1943 (ano do teu nascimento), e localizava-se onde se encontra hoje a Fundação Calouste Gulbenkian.
Deixo para ti esse alegre regresso ao passado.
Caros candidatos à Câmara Municipal de Lisboa, devolvam-nos a Feira Popular!
No site sobre a Feira Popular diz: «Um grande parque de lazer, um grande parque verde com cerca de 20 hectares. É um projeto muito ambicioso que se vai desenvolver ao longo de vários anos, em várias etapas».
A única etapa que vejo de momento é: Obra Parada.
Tantas memórias entre avós e netos que podiam ser registadas neste espaço.
Como diria a outra: ‘Vergonhaaaaa’.
Faltam três meses para o Natal.
Bjs
Querido neto,
Quando começaste a falar na ‘antiga Feira Popular’ tive vontade de rir porque, para mim, a ‘antiga Feira Popular’ era no Parque de Santa Gertrudes (também conhecido por Parque de Palhavã) onde é hoje o Jardim da Gulbenkian, mas muito mais acima da Fundação, já perto da Av. Duque d´Ávila. Antes disso tinha sido o primeiro Jardim Zoológico de Lisboa — mas eu não sou desse tempo.
E também foi aí que se fizeram as primeiras emissões experimentais da RTP.
Mas para tudo o que se queria fazer na Feira Popular, o espaço começou a ser pequeno.
Então apareceu outra, muito maior, em Entrecampos — e enquanto esteve aberta eu não parava de lá ir. De resto, quando as aulas acabavam, e nós passávamos de ano, o prémio era sempre um jantar na Feira Popular.
Às vezes aborrecia-me um bocado ir à Feira porque eu só queria era andar nos carrosséis, nos carrinhos de choque ali a batermos uns nos outros, no Comboio Fantasma, na Grande Roda (que às vezes parava para entrar pessoal e nós ficávamos lá no alto a olhar cá para baixo), a Montanha Russa, essas coisas — e os meus tios, já velhotes, só queriam estar nos cafés (adoravam um que se chamava ‘O Café das Pretas’, olha se fosse hoje…) ou irem às rifas — onde saiam sempre coisas para eles: montanhas de tachos e panelas, trens de cozinha, lençóis, etc…
Por acaso nunca fui muito de andar em cima dos cavalos que uns homens puxavam e nos levavam a dar a volta toda pela feira.
Depois, vá-se lá saber porquê — a Feira fechou.
Prometeram feira igual noutro lugar, e aquele enorme terreno – agora é que vemos bem o tamanho que tinha a Feira! – seria para urbanizar logo a seguir.
Até hoje.
Um terreno enorme, vazio, no meio da cidade — não deve existir em muitos países…
Entretanto soube-se que a Feira iria ter finalmente novo poiso, lá para Carnide, ao pé da Casa do Artista.
Mas até hoje…nada.
Espero que estas eleições tragam ao menos a esperança de se retomarem os trabalhos.
Bjs