As falhas de energia na China deixaram milhões de casas sem luz, obrigaram ao encerramento de inúmeras fábricas e ameaçam interromper o fornecimento de água de pelo menos uma província.
Este fenómeno é justificado pelo racionamento da energia nas horas de ponta, uma medida adotada devido às restrições à utilização de carvão – a China comprometeu-se a tentar reduzir as emissões de carbono. Ao mesmo tempo, o clima extremo que tem afetado o nordeste do país levou a que parte da população tivesse maior necessidade de eletricidade.
Estes fatores estão a causar graves problemas na rede elétrica do país que podem demorar meses a resolver, ter implicações graves na recuperação económica do país e afetar o comércio global.
O racionamento começou na passada quinta-feira e teve as mais diversas consequências, como a incapacidade de alimentar as luzes dos semáforos e a cobertura da rede 3G para os telemóveis da população.
Andy Mok, investigador sénior do Centro da Globalização e da China, descreveu estas falhas de energia como um “problema cíclico e a curto prazo”, e afirmou que “é esperado que o governo chinês se chegue à frente para resolver este problema”, em especial para garantir condições de vida confortáveis para a população do nordeste chinês.
“No Nordeste da China, o Inverno pode ser cruelmente frio, por isso a principal prioridade é assegurar a eletricidade e aquecimento desta população”, disse o investigador à Al Jazeera.
Estas consequências são apenas o início de uma teia que pode ter consequências globais, com a paralisação de fábricas que abastecem empresas como a Apple e Tesla.
A indústria chinesa de tecnologias já estava a passar um mau momento, com uma escassez na produção de chips e outros componentes, mas esta nova crise de energia, que já levou à suspensão de pelo menos cinco fábricas, pode atrasar entregas de encomendas a nível global.
Os responsáveis das fábricas esperam que esta suspensão de energia seja apenas temporária. No entanto, especialistas acreditam que a situação vai prolongar-se pelos próximos meses.
Além da suspensão devido às restrições de energia, outra fábrica chinesa teve que parar a sua produção devido a uma fuga que resultou na intoxicação por gás de vários trabalhadores.
Esta é a pior crise de escassez energética na China desde 2011, quando a falta de carvão e o aumento do seu preço obrigou 17 províncias a restringir o uso de eletricidade.
A economia chinesa é muito dependente da energia gerada pelo carvão, cerca de 60%, e o seu abastecimento foi afetado não só pela pandemia provocada pelo coronavírus, mas também pela queda de importações, gerada pela disputa comercial com a Austrália.
A redução do consumo de carvão também faz parte de uma nova legislação instituída pelo Presidente chinês, Xi Jinping, que, durante a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas, se comprometeu a deixar de construir centrais a carvão no estrangeiro para lutar contra o aquecimento global e atingir a neutralidade carbónica “antes de 2060”.
Esta lei limita o valor do preço a cobrar pela taxa energética, impedindo as empresas de aumentar o seu valor. A medida tem promovido a redução da produção de energia e deixado a rede elétrica no limite.