Floresta portuguesa é a menos resiliente da Europa

69% da Europa tem um índice de resiliência florestal superior a 10. Já em Portugal, o número fixa-se nos 0,25.

Portugal é o país da Europa com florestas menos resilientes, conclui um estudo publicado na revista científica Global Ecology and Biogeography e partilhado ontem na página de Facebook do Laboratório de Fogos Florestais da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD). A resiliência é o quociente entre a frequência de perturbações e a rapidez de recuperação após perturbação.

Contactado pelo i, o professor e investigador da UTAD Paulo Fernandes afirma que “os resultados parecem um bocadinho exagerados”, uma vez que não foram tidos em conta todos os fatores necessários, nomeadamente as “transições do solo” e o “horizonte temporal”.

Quando se fala em perturbação, o investigador explica que isto é apenas tido em conta de um ponto de vista “ecológico”. “Não é tido em conta se se tratou de um fogo, de um corte ou, por exemplo, da mortalidade das árvores causada por insetos ou fungos”, aponta. O método utilizado foi a recolha de imagens de áreas.

 

69% das florestas europeias “fortemente resilientes”

O estudo, da autoria de Cornelius Senf e Rupert Seidl, foi feito entre os anos de 1986 e 2018, o que significa também que o país pode ter tido resultados mais negativos, uma vez que terminou no ano seguinte aos grandes incêndios que atingiram a zona Centro do país. Além disso, esclarece Paulo Fernandes, o facto de não terem sido tidas em conta as transições do solo significa que, mesmo que as zonas de floresta tenham passado a ser zonas de mato ou até mesmo habitacionais, foram percecionadas como um local em que as árvores simplesmente não voltaram a crescer.

Segundo o estudo, existem outros países da Europa onde o intervalo de perturbações é quase tão elevado como o de Portugal, como é o caso da Finlândia e da Suécia. No entanto, esses países têm uma maior rapidez de recuperação após a perturbação, o que faz com a que sua resiliência florestal seja superior à do nosso país.

Cornelius Senf e Rupert Seidl afirmam que “aproximadamente 69%” das florestas da Europa “podem ser consideradas fortemente resilientes”, o que significa que a sua resiliência tem um rácio superior a 10 – o tempo que a floresta demora a recuperar é 10 vez superior ao tempo que demora a ser destruída. Zonas especialmente resilientes foram encontradas na região da Península dos Balcãs (com a Moldávia a ter uma resiliência de 61,64 e a Sérvia de 41,40).

Florestas moderadamente resilientes, ou seja com um rácio entre 10 e 5, existem em 17% e podemos dar o exemplo da Grécia, com uma resiliência de 6,26, da França, com 9,62, e da Finlândia, com 7,44.

Por fim, 12% da Europa tem florestas com índices de resiliência entre 5 e 1, ou seja baixa resiliência. A Suécia (5,21), a Espanha (1,28) são os únicos países em que isso acontece, sendo que podemos ainda considerar certas partes de França e da Finlândia.

 

“Métodos influenciam demasiado os resultados”

Onde se encaixa Portugal? No estado crítico. É o único país da Europa cujo índice de resiliência é inferior a 1, sendo de 0,25.

Nuno Gracinhas Nunes Guiomar, assistente de investigação no Instituto Mediterrâneo para Agricultura, Ambiente e Desenvolvimento da Universidade de Évora, considera que “os métodos influenciam demasiado os resultados”. Na sua ótica, “a discussão não se deveria fixar onde é que as florestas são mais ou menos resilientes, mas sim onde é que os regimes de perturbação já ultrapassaram a limiar da resiliência dessas florestas”.

Recorde-se que no início deste mês o Sistema de Gestão de Informação dos Incêndios Florestais (SGIF) do Ministério da Administração Interna (MAI) divulgou os dados provisórios relativos aos fogos florestais de 1 de janeiro a 31 de agosto e 2021 está a ser o ano com menor número de incêndios desde 2011. Neste período houve 6672 incêndios rurais, menos 47% relativamente à média anual, que se situa nos 12 528.

“Os 6.672 incêndios resultaram em 25.961 hectares de área ardida, que correspondem a menos 68% de área ardida relativamente à média anual (79.947 hectares) do período 2011-2021 entre janeiro e agosto”, lia-se na nota do Governo.

O MAI sublinhou ainda que estes dados representam uma tendência de diminuição, sendo que, nos últimos quatro anos, o número de incêndios tem vindo a ser cada vez menor, sendo que, no período homólogo de 2018 houve 8525 fogos rurais, no de 2019, 7799 e, no de há um ano, caiu para 6903. O pior ano da década neste parâmetro foi 2012, quando se registaram 19 071.