Mudar

É consideravelmente mais difícil mantermo-nos em forma se o armário estiver cheio de bolachinhas, tanto quanto é mais complicado pararem-se os hábitos tabagistas enquanto se respira bem.

Meio mundo quer mudar. Contudo, outro meio mundo não está disposto a fazer o que é necessário para tal acontecer. Seja ela na sua atividade profissional, seja na vida pessoal, a mudança acontece sempre que se reúnem na mesma pessoa a inerente insatisfação, opções ou oportunidades, e meio envolvente favorável.

Tal como numa combustão existe um combustível (suscetível de entrar em combustão), um comburente (que misturado com o combustível permite a combustão) e a ignição (a faísca que dá início ao processo), para cada um de nós existe algo que queremos que seja diferente (hábitos alimentares, por exemplo), um ambiente favorável (uma dispensa cheia de vegetais, frutas e outros alimentos saudáveis) e a vontade de mudar.

Verdade seja dita: é requerida mais energia para mudar do que para manter o estado atual. Ou seja, é mais fácil permanecer na zona de conforto do que sair dela. Ainda assim, julgo que só não aconteça mais vezes pela ausência ou de um bom meio à nossa volta, ou de uma forte necessidade para mudar.

É consideravelmente mais difícil mantermo-nos em forma se o armário estiver cheio de bolachinhas, tanto quanto é mais complicado pararem-se os hábitos tabagistas enquanto se respira bem. O cenário muda quando a necessidade aperta e o ambiente é relativamente menos importante. Perdoe-se-me a franqueza, mas realmente a necessidade aguça o engenho, e o ‘pobre’ encontra frequentemente, na hora do aperto, forma de contornar o ambiente desfavorável para financiar o seu dia.

O quotidiano do leitor, julgo, é rico em circunstâncias que poderiam ser mais favoráveis ao bem-estar geral: podia existir menos burocracia, menos horas de trabalho, melhores salários, menos poluição, entre tantas outras possibilidades que inundam o universo. Todas elas são reais e possíveis, talvez apenas ainda não ao mesmo tempo, no mesmo sítio.

Penso que não só gostaria muito, como apoiaria, e estaria até disposto a fazer algo para que, de facto, existisse menos poluição e menos horas de trabalho. Assim, a razão pela qual ainda se trabalham pelo menos 40 horas por semana prende-se com condições do meio favoráveis para tal, uma vez que não é uma absoluta necessidade trabalhar menos horas (ainda).

Hoje o leitor define que quer comer saudável e equilibradamente, mas o seu armário já está cheio de bolachas, às quais será difícil resistir. Nesse caso acredito que a responsabilidade é partilhada com o meio. A partir do momento em que o leitor retorna a casa das compras com mais pacotes, a responsabilidade é inteiramente sua. Quero com isto dizer que hoje usufruímos do que herdámos, no que às condições de trabalho diz respeito, mas não temos de nos cingir a elas. Estou seguro de que, com tempo, boa produtividade, cultura empresarial e uma forte comunicação nas organizações, é possível fazer-se a mudança.

A mudança é possível!? Sempre. É fácil!? Nem por isso. O leitor quer mudança!? Então faça por isso. O mundo gira a nosso favor, na proporção em giramos à volta dos nossos objetivos.