Por Judite de Sousa
Será que caminhamos para uma crise política? Creio que não. O Presidente não a deseja, o Governo também não e os partidos que suportam a governabilidade do país – PCP e BE – teriam mais a perder do que a ganhar se os portugueses fossem chamados para votar em eleições antecipadas. Mais do que o Bloco de Esquerda, é no Partido Comunista que está o ónus da situação. Depois dos resultados das autárquicas, o custo político a pagar pela queda do Governo poderia ser imenso. Seria um risco. Percebe-se o dilema estratégico. Será que o declínio do PCP tem vindo a acontecer, da forma acentuada que se conhece, pelo apoio parlamentar ao Governo? Muitos inclinam-se para esta eventual explicação. A ver vamos.
Com ou não crise política, Rui Rio aposta agora em ganhar tempo numa altura em que há posições claras dentro do PSD no sentido de apoiar a candidatura de Paulo Rangel. A ideia de adiar as eleições diretas é um sinal de que Rui Rio quer continuar como líder do PSD e travar o avanço de Rangel. Pelo menos, para já. O centro direita sente que o poder pode estar próximo. Resolvida a questão do Orçamento, António Costa vai ter que reagir. E isso passa pela remodelação de um Governo cansado, com ministros desgastados, sem carisma, desconhecidos dos portugueses e sem capacidade de comunicação. À exceção de Pedro Nuno Santos, o Governo é António Costa.
É neste contexto que surge a grande ilusão. Durante ano e meio, em razão da forma eficaz como o país enfrentou a crise pandémica e os excelentes resultados da vacinação, foi criada a ideia de que o Serviço Nacional de Saúde não enfrentava problemas de maior. É claro que o país sempre soube dos crónicos problemas financeiros e da falta de médicos e enfermeiros, entre outros. Agora, no espaço de duas semanas, tivemos demissões de médicos e diretores de serviço em várias unidades do país e uma greve de médicos anunciada para novembro. Dá que pensar.